Tóquio/Lula diz que Trump "não é o xerife do mundo" e ameaça tarifas recíprocas do Brasil
Bissau, 27 Mar 25(ANG) – O Presidente brasileiro, Lula da Silva, criticou hoje o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, que “não é o xerife do mundo”, segundo Lula, ameaçando reagir com “reciprocidade” às tarifas dos EUA sobre as importações de aço brasileiro.
Numa
conferência de imprensa hoje em Tóquio, durante a sua visita de Estado, Luiz
Inácio Lula da Silva disse que o Brasil tem “duas decisões a tomar” em resposta
às tarifas de 25% que entraram em vigor este mês: a primeira é recorrer à
Organização Mundial do Comércio (OMC) e, se isso não funcionar, “recorrer a
outras ferramentas”.
Lula
mencionou especificamente a opção de “aumentar as tarifas sobre os produtos
americanos” importados pelo Brasil, o que definiu como “pôr em prática a lei da
reciprocidade”.
“O
que não podemos fazer é ficar calados, achando que só eles podem impor
tarifas”, disse.
“Estou
muito preocupado com a política do Governo americano por causa dessas tarifas
sobre todos os produtos de todos os países”, disse ainda Lula à imprensa em
Tóquio, no final da sua visita, quando questionado sobre as novas tarifas de
25% sobre todos os automóveis importados pelos EUA a partir de 02 de abril,
anunciadas na véspera por Trump.
“Estou
preocupado porque o livre comércio é que está a ser prejudicado, porque o
multilateralismo está a ser derrotado, e estou preocupado porque o Presidente
americano não é o xerife do mundo, é apenas o Presidente dos Estados Unidos”,
sublinhou o líder de esquerda.
Em
vez de impor “medidas unilaterais”, Lula considera que seria mais adequado
“conversar com outros líderes” para chegar a acordo sobre políticas de preços
benéficas para todas as partes.
“Sinceramente,
não sei qual é o benefício de aumentar em 25% as tarifas sobre os carros
comprados no Japão”, disse o líder brasileiro sobre o país asiático, um dos
mais atingidos pelas novas medidas comerciais dos Estados Unidos, dado o peso
da sua indústria automóvel.
“A
única coisa que isso vai fazer é tornar os carros mais caros para os
consumidores americanos e aumentar a inflação”, disse Lula, que também apontou
o risco de os preços mais altos levarem a uma contração económica.
Lula
chegou ao Japão na segunda-feira para uma visita de Estado de quatro dias, que
termina hoje, antes de seguir para o Vietname, onde deverá encontrar-se com o
primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chinh, e com o Presidente vietnamita,
Luong Cuong, a partir de sexta-feira.
Numa
cimeira realizada na véspera com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba,
os dois líderes concordaram em lançar iniciativas conjuntas de descarbonização
e reforçar os laços comerciais, com um futuro acordo de comércio livre entre o
país asiático e o Mercosul no horizonte e no atual contexto de guerra comercial
e negacionismo climático.
Durante
a visita, o Presidente brasileiro sublinhou a mensagem de que a democracia, o
comércio livre e o multilateralismo estão em perigo a nível mundial perante o
aumento do protecionismo, do autoritarismo e da “nova guerra fria” entre os
Estados Unidos e a China.
ANG/Inforpress/Lusa
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