Negociações sobre o clima retomadas hoje
Bissau, 08
Mai 17 (ANG) - A cidade alemã de Bona acolhe a partir de hoje uma reunião técnica
de dez dias, para discutir aspectos ligados com a implementação do acordo de
Paris sobre o clima, numa altura em que os Estados Unidos ameaçam abandonar o
pacto que procura limitar o aquecimento do planeta.
“Temos de começar a definir de maneira operativa as
disposições do Acordo de Paris” antes da 23.ª Conferência das Partes (COP23),
que vai ser presidida pelas Ilhas Fiji e realizar-se em Bona no final de 2017,
disse David Levaï, pesquisador do Instituto de desenvolvimento sustentável e de
relações internacionais (Iddri).
Na reunião de Bona devem estar presentes peritos e representantes de 196 países
e organizações internacionais.
No final de 2015 em Paris, 195 países e a União
Europeia (UE) conseguiram chegar a um acordo para combater o aquecimento
global, o que implica - entre outras medidas - uma transição energética radical
que substitua as energias fósseis (carvão, petróleo, gás).
A Palestina juntou-se depois à Convenção do Clima
da ONU.
Em Marrakech (Marrocos), na COP22 de Novembro passado, os negociadores ficaram
abalados com a eleição do céptico das mudanças climáticas Donald Trump nos
Estados Unidos, mas demonstraram solidariedade e determinação para prosseguir
com os seus esforços. Desde então, a nova Administração de Washington não deixou
claro se quer ou não sair do Acordo de Paris, mas começou a desmantelar a
política ambiental impulsionada pelo ex-Presidente Barack Obama.
A Casa Branca deve anunciar as suas intenções no final deste mês. A próxima
reunião do G20, no início de Julho, na Alemanha, também deve servir de
“esclarecimento”, garantiu Laurence Tubiana, ex-negociadora francesa, para
saber se o clima continua no topo da agenda dos países mais poderosos.
Os membros do G20 representam cerca de três quartos das emissões mundiais de gases
do efeito estufa. A reunião de Bona (8-18 Maio) vai ser “muito técnica”, mas “a
especulação sobre a posição de Washington figura no topo das nossas
preocupações”, disse à AFP Thoriq Ibrahim, ministro do Meio Ambiente das
Maldivas, em nome dos pequenos Estados insulares.
Além da sua vontade de apoiar a exploração de
energias fósseis, Trump prevê deixar de financiar o Fundo Verde para o clima, a
Convenção do Clima da ONU (que supervisiona as negociações) e o Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima (Giec).
Apesar dos maus sinais enviados pela administração americana, alguns opinam que
as negociações poderão avançar.
“Os Estados Unidos de Barack Obama ajudaram-nos
muito a construir o Acordo de Paris, mas o futuro do planeta Terra não está só
nas suas costas” afirmou Laurence Tubiana, aludindo aos grandes países
emergentes, como a República Popular da China (maior poluidor do planeta),
Índia (4º) e Brasil.
No entanto, a situação actual cria “um contexto difícil”,
segundo opinião de Paula Caballero, do World Resources Institute, com sede em
Washington, já que “agora a liderança (para uma acção em favor do clima) está
muito difusa”.
Para que o Acordo de Paris possa ser plenamente aplicado a partir de 2020,
várias disposições devem ser aprofundadas.
Os países têm até à COP24, na Polónia em 2018, para redigir uma espécie de
manual (“livro de regras”) sobre o Acordo de Paris.
Até lá, devem decidir de que forma fazem um pré-balanço em 2018, de carácter
voluntário e chamado “diálogo facilitador”. Trata-se de saber que informações
devem ser dadas e com que finalidade.
Esta nova reunião foi agendada porque os cientistas consideram que os
compromissos dos países adoptados antes da COP 21 implicam um aumento
médio da temperatura global de 3°C em relação à era industrial, e que as
emissões devem ser reduzidas o mais rápido possível para que a subida da
temperatura fique abaixo de 2°C, um nível que já traria enormes alterações em
grande escala.
ANG/JA
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