Guillaume Soro acusa Ouattara de
preparar golpe
Bissau, 19 mar 20 (ANG) - O opositor e candidato à Presidência da Côte
d'Ivoire, Guillaume Soro, acusou o actual chefe de Estado, Alassane Ouattara,
de estar a preparar um golpe digno de Vladimir Putin ao promover a candidatura
do actual primeiro-ministro.
"Alassane Ouattara está a preparar
um golpe baixo digno de Vladimir Putin quando, em 2008, se fez substituir por
Dmitry Medvedev à frente da Rússia, antes de voltar à Presidência em
2012", disse Guillaume Soro, em entrevista ao jornal francês Le Fígaro.
Antigo líder rebelde,
ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Assembleia Nacional, Guillaume Soro, 47
anos, está exilado em Paris desde Dezembro por ser alvo de um mandado de
detenção na Côte d’Ivoire.
Em tempos aliado do presidente Alassane
Ouattara, o actual líder do partido "Générations et Peuples
Solidaires" (GPS) entrou em ruptura com o chefe de Estado, tendo anunciado
a sua candidatura às eleições presidenciais no país, marcadas para Outubro.
Na quinta-feira, o actual
primeiro-ministro da Côte d’Ivoire, Amadou Gon Coulibaly, foi nomeado candidato
do partido do Governo, depois do presidente Alassane Ouattara ter renunciado à
candidatura a um terceiro mandato.
Alassane Ouattara, que presidiu à
reunião do Conselho Político da União dos Houphouëtistas pela Paz e Democracia
(RHDP, na sigla em francês) saudou a escolha do partido e prometeu apoio à
candidatura.
Com 78 anos, Ouattara está a cumprir o
seu segundo mandato, depois de ter sido eleito para presidente da República em
2010 e reeleito em 2015.
Chefe de Governo desde 2017, Gon
Coulibaly, com 61 anos, fez toda a sua carreira política à sombra do presidente
Ouattara, tendo sido secretário-geral da Presidência da República até ser
nomeado primeiro-ministro.
Nas fileiras do RHDP, a escolha de Gon
Coulibaly não foi consensual, com alguns membros do partido, à coberto do anonimato,
a questionarem a pertinência da candidatura e a assinalarem a falta de carisma
do candidato.
"Alassane Ouattara quer catapultar
o seu actual primeiro-ministro Amadou Gon Coulibaly para a presidência e
reservar a possibilidade de que este o nomeie vice-presidente, cargo criado
pela revisão constitucional", acusou Soro.
O candidato opositor acredita que nem os
antigos presidentes Henri Konan Bedié, 86 anos, e Laurent Gbagbo, 75 anos, nem
qualquer líder da oposição quererão ser "cúmplices" do que considera
"uma manobra grosseira", uma vez que o partido de Ouattara não tem
maioria qualificada no parlamento.
Alassane Ouattara, que promoveu
alterações à Constituição em 2016, acredita ser legítima a sua candidatura a um
terceiro mandato, mas optou por não avançar, uma decisão que está a ser
encarada pela oposição como uma manobra que permitirá ao actual chefe de Estado
continuar a exercer o poder na retaguarda.
Guillaume Soro compara ainda a intenção
anunciada por Ouattara de promover novas alterações à Constituição por via
parlamentar a "um golpe".
"Em primeiro lugar, tal reforma
requer normalmente um longo diálogo prévio com as populações e a formação de
uma assembleia constituinte para trabalhar na elaboração de uma nova lei
fundamental", disse Soro.
Apontou, por outro lado, que os
regulamentos da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
à qual a Côte d’Ivoire pertence, proíbem a alteração de uma Constituição seis
meses antes da data das eleições presidenciais.
"Será esse o caso uma vez que a
nova lei deverá ser adoptada pelo parlamento da Côte d’Ivoire na primavera e as
eleições estão previstas, em princípio, para 31 de Outubro", disse.
Guillaume Soro, que é apontado pelos
analistas políticos como um sério candidato às presidenciais por causa da sua
popularidade entre os jovens, é acusado pela justiça da Côte d’Ivoire de ter
preparado "uma insurreição civil para tomar o poder".
Num caso separado, foi também acusado de
desvio de fundos públicos, ocultação dos fundos desviados e lavagem de dinheiro.
As forças de segurança detiveram
familiares e apoiantes de Soro, incluindo cinco deputados, a quem foi levantada
a imunidade parlamentar.
Entretanto,
o senado e a Assembleia Nacional ivoirienses
reunidos terça-feira, 17, em congresso, aprovaram por 246 votos e dois contra,
a revisão constitucional proposta pelo Presidente da República, Alassane
Ouattara.
O projecto, criticado pela
oposição, foi adoptado por uma maioria de dois terços dos 344 deputados e
senadores , prevendo, entre outras alterações, que o
vice-presidente da República não seja eleito mas sim indigitado pelo Presidente
da República eleito.
Com um clima político tenso, as eleições
presidenciais realizam-se quando passam 10 anos da crise pós-eleitoral de
2010-2011, que causou 3.000 mortos.ANG/Angop
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