África toma fortes medidas para conter
propagação do vírus
Bissau,
18 mar 20 (ANG) - Muitos países africanos tomaram fortes medidas nos últimos
dias para evitar que a Covid-19 se espalhe incontrolavelmente pelo continente,
que até agora é o menos afectado pela epidemia, com 400 casos de infecção
registados e apenas dez mortes.
"Esperamos não
atingir o número de infecções registadas na Europa. Os sistemas de saúde em
África são muito frágeis e seria desastroso", disse à agência espanhola,
Efe, por telefone, o director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças em
África (CDC), Ahmed Ogwell.
"É verdade que o
número de infecções está a aumentar, mas em geral é um ou dois por dia, não
demasiados ao mesmo tempo", continua Ogwell, chefe desta instituição da
União Africana com sede em Addis Abeba, Etiópia.
Tal como Orgwel, vários
especialistas esperam que o ataque da Covid-19 em África seja menos duro do que
noutros continentes, em primeiro lugar porque o tráfego aéreo para aquela zona
do globo é menor em comparação com o resto do mundo, e depois pela experiência
que o continente africano tem em conter epidemias como a de Ébola, cólera ou
febre de Lassa, entre outras.
"Mas é verdade que
ninguém sabe o que vai acontecer amanhã" em relação a uma epidemia que já
gerou mais de 7.000 mortes - quase metade delas na China, a origem da doença -
e mais de 180 mil pessoas infectadas em todo o mundo", admitiu aquele
responsável.
Em contraste, os 54
países africanos registam pouco mais de 400 casos e dez mortes confirmadas
oficialmente, apesar de muitos suspeitarem que os números reais poderão ser bem
mais elevados, dada a escassez de testes e o controlo de informação por parte
dos governos.
"Nós não temos mais
casos porque não estamos a testar. Não vamos retardar a propagação a menos que
tomemos medidas radicais", afirmou a médica etíope Senait Fisseha,
conselheira do director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em caso de dúvida, as
grandes potências africanas - vibrantes pontos de tráfego com a Europa e a Ásia
- tomaram medidas drásticas nas últimas 48 horas, incluindo proibições de
viagens, revogações de vistos ou encerramento de locais de culto religioso.
O Quénia, com três casos
confirmados, proibiu no domingo a entrada de viajantes de qualquer país
afectado pela Covid-19, e juntamente com o Ghana, Senegal, Ruanda e Etiópia -
entre outros países - ordenou o encerramento de escolas e proibiu qualquer reunião
pública.
Até hoje, a Covid-19
chegou a 30 países africanos, com quatro casos recentes confirmados na
segunda-feira na Somália, Libéria, Tanzânia e Benim, que, como quase todos os
anteriores, trata-se de pessoas oriundas da Europa e da Ásia ou africanos que
visitaram recentemente aqueles continentes.
O Presidente
sul-africano, Cyril Ramaphosa, decretou no domingo o estado de calamidade
nacional e anunciou - a partir de quarta-feira - a proibição de visitantes dos
EUA, Reino Unido, Itália e outros países de alto risco, bem como o encerramento
de escolas e a proibição de concentrações de mais de 100 pessoas, a fim de
evitar um aumento dos 62 casos de infecção registados até agora no país, o
maior número no continente, só ultrapassado pelo Egipto (mais de 160).
Outros países também
impuseram medidas rigorosas para combater o vírus, como Marrocos, que decretou
o encerramento do espaço aéreo e o fim dos voos comerciais para todos os
destinos do mundo, além do encerramento de escolas, cafés, restaurantes, cinemas,
teatros e todos os locais de entretenimento, ou a Argélia, que na segunda-feira
suspendeu as ligações aéreas e marítimas com todos os países europeus.
Se a situação piorasse
drasticamente nas próximas semanas, como aconteceu na Europa, os funcionários e
o pessoal médico receiam que o sistema de saúde, já precário em muito dos
países, se desmorone e que as mortes se multipliquem.
No total, são 43 os
países do continente capazes de realizar um número muito limitado de testes de
coronavírus, de acordo com dados do CDC africano, que no último mês deu
formação em muitos Estados africanos sobre vigilância, prevenção e gestão
clínica.
No entanto, o
secretário-geral da União Nacional de Enfermeiros do Quénia, Seth Panyako,
disse à agência espanhola Efe que os enfermeiros, profissionais na primeira
linha de contacto com casos suspeitos de coronavírus, não dispõem de
equipamento de protecção adequado.
Um medo que se estende a
áreas de conflito - como o centro e sul da Somália sob o controlo do grupo
jihadista 'Al Shabab' - campos de refugiados no Sudão do Sul, na Bacia do Lago
Tchad ou no norte do Quénia e, em geral, em qualquer lugar onde "ficar em
casa" é quase uma quimera.ANG/Angop
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