Mianmar/Enviada especial da
ONU alerta sobre risco de “guerra real”
Bissau, 05 Mar 21 (ANG) - A enviada
especial da ONU a Mianmar, Christine Schraner Burgener,
alertou na quarta-feira que a situação no país ameaça “a estabilidade
da região” e pode levar a uma “guerra real”.
Falando a jornalistas em Nova
Iorque, ela citou as 38 mortes, em 3 de março,
considerado o dia mais sangrento desde o novo golpe militar em 1º de
fevereiro.
Schraner Burgener disse a
representantes do Exército birmanês que os Estados-membros da
ONU e o Conselho de Segurança poderiam tomar "medidas fortes". Na
quinta-feira, os países do órgão deveriam se reunir para debater o tema.
A enviada da ONU informou que a resposta
dos militares a ela foi de que estão "acostumados”
e sabem sobreviver a sanções. Além disso, eles não demonstraram
preocupação com a possibilidade de isolamento internacional.
Mianmar, a antiga Birmânia, já passou por
vários golpes de Estado. Após a vitória do partido de oposição, Liga Nacional
pela Democracia, NLD, nas eleições de 1989, o Exército prendeu a líder do
partido e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, que voltou à
prisão no último golpe do mês passado.
Os militares dizem que as últimas
eleições legislativas, de 2020, que deram vitória ao partido de Suu Kyi foram
alvo de fraude, mas a Comissão Eleitoral do país discorda e diz que o
pleito foi limpo e justo.
A enviada da ONU contou que segue
em contato com parlamentares eleitos e outras partes em Mianmar. Para ela,
a participação da comunidade internacional é fundamental nessa hora.
Na quinta-feira, a alta
comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que as
forças de segurança em Mianmar devem “parar a violenta repressão aos
manifestantes pacíficos.”
Bachelet está “chocada com os
ataques documentados contra equipes médicas de emergência e ambulâncias
que socorrer os feridos.”
O Escritório de Direitos Humanos da ONU confirmou a
informação de que pelo menos 54 pessoas foram mortas por policiais e militares
desde 1º de fevereiro.
O número real de mortos, no entanto,
pode ser muito maior.
Desde 1 de fevereiro, mais de
1,7 mil pessoas foram arbitrariamente presas em protestos ou
atividades políticas, incluindo deputados, ativistas, funcionários
eleitorais, escritores, jornalistas e defensores dos direitos
humanos.
O número de prisões e detenções
arbitrárias subiu nos últimos dias. Somente na quarta-feira,
foram 700 pessoas.
Bachelet também expressou
preocupação com a perseguição de jornalistas. Pelo menos
29 profissionais de comunicação foram presos e pelo menos
oito indiciados por crimes como incitamento à oposição, ódio ao
governo ou participação em evento ilegal.
A chefe de direitos humanos pediu a
todos “com informação e influência” que apoiem os esforços internacionais
para responsabilizar os líderes militares pelas graves violações dos direitos
humanos cometidas.
Segundo ela, “este é o momento de virar
a mesa por justiça e acabar com o domínio militar sobre a democracia
em Mianmar.”
Com a escalada da crise, o número de
crianças mortas, feridas ou detidas arbitrariamente pelas forças de
segurança também subiu.
O Fundo das Nações Unidas para a
Infância, Unicef, informa que em 3 de março, pelo menos cinco
crianças e vários jovens e
adultos foram mortos. Quatro crianças ficaram gravemente
feridas.
Muitas crianças estão sendo
expostas a gás lacrimogêneo e granadas de choque, algumas estão vendo pais e
parentes serem vítimas de violência.
Muitos dos presos ou detidos estão
incomunicáveis, sem acesso a um advogado, o que caracteriza
uma violação de seus direitos humanos.
ANG/ONU NEWS
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