quinta-feira, 16 de maio de 2019

Brasil


                          Milhares vão às ruas contra cortes  na educação

Bissau, 16 mai 19 (ANG) -  Centenas de milhares de estudantes e professores protestaram em todo o país na quarta-feira (15) contra o bloqueio de recursos para a Educação, anunciado pelo governo de Jair Bolsonaro, que atribuiu a agitação à manipulação de "idiotas úteis" por parte de uma minoria de esquerda.
As greves e actos desta primeira grande contestação ao presidente de extrema-direita, que assumiu o cargo em 1º de Janeiro, se estenderam por quase 200 cidades dos 27 estados brasileiros, segundo informes oficiais compilados pela imprensa.
Os manifestantes também atacaram a reforma da Previdência - considerada essencial pelo mercado financeiro e pelo governo para acertar as contas públicas - e contra o decreto recente de Bolsonaro de flexibilizar o porte de armas.
O número oficial de participantes é impossível saber porque as autoridades de muitos estados, como o Rio de Janeiro, não publicam estimativas.
Até as primeiras horas da noite, fontes oficiais registaram 15.000 manifestantes em Brasília e 20.000 em Belém do Pará.
Imagens aéreas transmitidas pela TV mostravam multidões impressionantes nas ruas de Rio e São Paulo, onde os organizadores estimaram uma participação de 150.000 pessoas que repetiam palavras de ordem como "Tirem as mãos da educação" e "Livros sim, armas não".
Também segundo os organizadores, houve 70.000 manifestantes em Salvador, 20.000 em Curitiba e 15.000 em Belo Horizonte.
O dia transcorreu sem incidentes, fora de um confronto entre grupos de jovens e policiais em Porto Alegre e do incêndio de um autocarro no Rio após o fim da manifestação.
Os protestos denunciam os planos do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de bloquear recursos, inclusive 30 porcento do orçamento discricionário (não obrigatório) das universidades federais. A medida afecta milhares de bolsas de estudo, assim como o pagamento de contas de luz, água, serviços de limpeza e segurança.
O governo alega que não se tratam de cortes definitivos, mas um contingenciamento de recursos em todas as áreas quando a renda prevista é inferior à contemplada nos orçamentos.
Weintraub, convocado pela Câmara dos Deputados, explicou que o novo governo "não é responsável pelo desastre da educação básica brasileira" e advertiu que a "autonomia universitária não é soberania. As universidades têm que respeitar as leis".
Bolsonaro optou por confrontar os manifestantes, afirmando que a maioria dos manifestantes é "militante. Não tem nada na cabeça".
"Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil", afirmou Bolsonaro, em visita a Dallas (Texas), onde será homenageado na quinta-feira pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Estas declarações foram consideradas uma afronta por muitos manifestantes, que insistem na defesa da educação.
"Tenho mestrado e pós-doutorado em energia; se alguém é idiota nessa história não sou eu. Sem ciência não há saúde, nem trabalho. Estamos aqui lutando para que o Brasil continue produzindo conhecimento. Sem dinheiro, não há conhecimento", afirmou Mariana Moura, de 38 anos, pesquisadora do Instituto de Energia da Universidade de São Paulo.
Desde a chegada de Bolsonaro ao poder, a Educação se tornou um campo de disputa entre os sectores mais conservadores do eleitorado do capitão, decididos a extirpar qualquer vestígio do "marxismo cultural" nas salas de aula.
O presidente já tinha causado polémica em Abril, ao anunciar no Twitter que seu governo analisava cortar verbas para cursos como filosofia e sociologia nas universidades públicas, com o objectivo de concentrar esforços em cursos como veterinária, engenharia ou medicina que, segundo ele, geram retorno imediato ao contribuinte.
A agitação preocupa os mercados, que apostaram em Bolsonaro para avançar em suas reivindicações de cortes fiscais.
A Bolsa de São Paulo, que nos primeiros meses da gestão Bolsonaro chegou a subir quase 15 porcento e superar os 100.000 pontos, fechou nesta quarta-feira a 91.623 pontos (-0,51 porcento), seu menor nível desde 3 de Janeiro, sob o impacto da situação política no Brasil e das tensões comerciais internacionais.
O dólar superou pela primeira vez os 4 reais desde 25 de Abril, chegando a 4,019, antes de recuar sutilmente para fechar a 3,97. ANG/Angop

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