Cipriano Cassamá renuncia ao cargo de Presidente
interino
Bissau, 02 mar 20 (ANG) - O
deputado do PAIGC, Cipriano Cassamá, que tinha sido empossado pela Assembleia
nacional popular, Presidente interino da Guiné Bissau, se renunciou ao cargo, alegando razões de "segurança
contra a sua pessoa e da sua família".
Cipriano Cassamá, que era
Presidente da Assembleia, antes de ocupar as funções interinas de Chefe de
Estado, havia recusado dar investidura ao Presidente Umaro Sissoco Embaló,
declarado vencedor das eleições presidenciais na Guiné Bissau, pela Comissão
Nacional de eleições. Este recuo de Cassamá, significa que é forçado a
reconhecer que o Chefe de Estado é Sissoco Embaló.
Nova reviravolta na Guiné Bissau, com Cipriano Cassamá
a "renunciar ao cargo de Presidente interino", para que foi indicado
pelos deputados do PAIGC, partido maioritário.
Cipriano Cassamá em conferência de imprensa na manhã de Domingo em Bissau, declarou não haver condições para continuar no cargo, tendo em conta
que "a Casa parlamentar foi invadida por forças armadas" que
proferiram "ameaças contra a sua pessoa e a sua família".
O deputado pelo PAIGC, vencedor das últimas eleições
legislativas, perde assim no espaço de 48 horas os cargos de Presidente da
Assembleia nacional Popular e de Presidente interino da Guiné Bissau.
Cipriano Cassamá insistiu em dizer ainda que a sua
decisão se inscreve no quadro da "consolidação da paz, porque o povo
guineense já sofreu muito, pelo que pedia desculpas ao PAIGC" por causa
desta sua renúncia" e desculpas também "ao povo para que haja a
paz".
Em reacção, a segunda vice-presidente do PAIGC, Odete
Semedo, afirmou que Cipriano Cassamá foi forçado a demitir-se do cargo de
Presidente interino da Guiné-Bissau."Nós consideramos isto, a nível do PAIGC, como
uma renúncia forçada", afirmou aos jornalistas à porta da
residência de Cipriano Cassamá, em Bissau.
"Houve
coações, intimidações, substituições, que o próprio Presidente da República
interino fosse avisado ou os seus chefes de segurança fossem avisados. As
pessoas foram colocadas aqui na casa dele, sem ter sido tido ou achado",
declarou Odete Semedo.
A responsável disse também que "houve
uma crise de pânico" e que quando as pessoas sentem a sua vida
e as da sua família ameaçada têm de reagir: "Isto foi a reação do momento. Nós acreditamos que o Presidente da
República interino vai calmamente repensar o país, porque o que está em causa é
o país e não há nada que nos possa intimidar, ele que não se intimide porque
este país é nosso, somos todos guineenses e sendo guineenses devemos ter a
consciência de trabalhar para a paz e sua consolidação e para que a
Guiné-Bissau seja um país desenvolvido como os outros."
A Guiné-Bissau vive mais um momento de tensão política, depois de Umaro Sissoco
Embaló ter demitido na sexta-feira Aristides Gomes do cargo de
primeiro-ministro e nomeado Nuno Nabian, que tomou posse no sábado.
Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor da segunda volta das presidenciais da Guiné-Bissau pela Comissão Nacional de Eleições, tomou posse simbolicamente como Presidente guineense na quinta-feira, numa altura em que o Supremo Tribunal de Justiça ainda analisa um recurso de contencioso eleitoral interposto pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
O Presidente declarado eleito pela Comissão nacional
de Eleições, Umaro Sissoco Embaló, passa assim a controlar todas as
Instituições na Guiné Bissau, enquanto Chefe de Estado, o governo, ao nomear
sabado, Nuno Nabian, como Primeiro ministro e as Forças armadas, que estiveram
presentes, no acto de nomeação do novo chefe do governo.
Anteriormente, Sissoco Embaló, havia demitido das
funções de Primeiro ministro, Aristides Gomes, que estaria refugiado na
embaixada da França, temendo pela sua segurança física.
Em declarações à enviada da RFI em francês, a Bissau,
Aristides Gomes, declarou que "na prática deixou de ser primeiro
ministro" e que "a comunidade internacional serve apenas para o
acompanhamento".
O Presidente declarado vencedor pela CNE, Sissoco
Embaló, controla militarmente as instituições do país, nomeadamente, o Supremo
Tribunal da Justiça, que até agora não validou a sua eleição, porque ainda não
se pronunciou sobre o contencioso eleitoral, no qual o candidato do PAIGC,
Domingos Simões Pereira, contestava a vitória do seu adversário nas últimas
eleições presidenciais de 29 de dezembro.
O Presidente Umaro Sissoco Embaló, já assumiu as suas
funções de chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas, pelo que,
seguramente, já não espera pelo pronunciamento do Supremo Tribunal, mesmo que
tal lhe seja positiva.
Aliás, há informações que circulam de que o Presidente
do Supremo Tribunal, estaria em paradeiro desconhecido ou que estaria mesmo em
Portugal.ANG/RFI
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