Nilo/Etiópia e Egipto alcançam
entendimento sobre mega-barragem
Bissau, 22 jul 20 (ANG) - A Etiópia, o Egipto e
o Sudão alcançaram um "importante entendimento comum" nas discussões sobre uma mega-barragem em território etíope que nos últimos meses tem levantado tensões regionais, anunciou terça-feira o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.Uma declaração do gabinete do
primeiro-ministro, citada pela Bloomberg, refere que os três países alcançaram
um "importante entendimento comum que possibilitará um acordo
revolucionário" durante uma reunião mediada pela União Africana (UA).
Segundo o documento, na reunião mediada
pelo presidente da UA e chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e que
contou com a presença de importantes actores regionais -- como o presidente da
Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, os três países concordaram em aprofundar
"discussões técnicas" sobre o enchimento da barragem.
"Alcançámos um entendimento para continuar
a negociar e para obter um acordo quanto ao enchimento e à operação da
barragem", escreveu o primeiro-ministro sudanês, Abdalla Hamdok, na
plataforma Twitter.
A declaração surge depois de fotos por
satélite apontarem que o nível de água na Grande Barragem do Renascimento
Etíope se encontra num máximo em quatro anos.
Na semana passada, surgiram relatos que
referiam que as autoridades etíopes tinham decidido iniciar o enchimento da
barragem antes de um acordo final ser alcançado.
A Etiópia afirmou que este aumento se
deve às fortes chuvas e, na declaração, refere que se tornou "evidente nas
últimas duas semanas da época chuvosa, que o primeiro ano de enchimento da
barragem está concluído e a que barragem, ainda em construção, está a
transbordar".
"A Etiópia pretende uma negociação
equilibrada com situações vantajosas que assegurem que o Nilo Azul vai
beneficiar os três países", acrescenta a nota citada pela Bloomberg.
O projecto, avaliado em mais de 4 mil
milhões de dólares, vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de
electricidade e controlar o fluxo de água do Nilo Azul, um rio que conflui com
Nilo Branco e com o rio Atbara e origina o rio Nilo.
A Etiópia considera que a mega-barragem
vai permitir retirar milhões dos seus cidadãos da pobreza ao transformar-se num
país exportador de energia.
"É absolutamente necessário que o
Egipto, Sudão e Etiópia, com o apoio da União Africana, alcancem um acordo que
preserve os interesses de todas as partes", escreveu Moussa Faki Mahamat
no Twitter, acrescentando que o Nilo "deve continuar como uma fonte de
paz".
As negociações entre os três países
prolongam-se há vários anos, não tendo sido verificados progressos
significativos nos últimos meses, apesar das discussões terem contado com
diversos mediadores -- incluindo a administração norte-americana.
Citado pela Associated Press, o
investigador Kevin Wheeler, do Instituto da Mudança Ambiental, da Universidade
de Oxford, afirmou que os receios de uma seca "não são justificados nesta
altura e servem para aumentar uma retórica que se deve à alteração das
dinâmicas de poder na região".
Ainda assim, o investigador alertou que "se houver uma seca nos próximos anos, isso poderá tornar-se um problema". ANG/Angop
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