Política/“Não
reconhecemos essa nova maioria parlamentar nem o Governo”, afirma Domingos Simões Pereira
Bissau,02 Jul 20(ANG) - O Parlamento da
Guiné-Bissau retomou quarta-feira os seus trabalhos com a presença dos
deputados do PAIGC, isto para além dos deputados da nova maioria composta por
elementos do MADEM G-15, do PRS, da APU-PDGB, do PND e de cinco dissidentes do
PAIGC.
O líder do PAIGC ao abordar os acontecimentos da passada segunda-feira quando
cinco deputados do partido se juntaram aos outros partidos com assentos
parlamentares para aprovarem o Programa do Governo, disse que não ficaram
satisfeitos ao ver isso acontecer.
Domingos Simões Pereira afirmou que o PAIGC não reconhece a nova maioria
proclamada na Assembleia Nacional Popular: “Nós não reconhecemos isso. Nós
pensamos que a maioria é estabelecida com os resultados eleitorais. Se
verificar a Constituição da Guiné-Bissau [...] não prevê coligações
pós-eleitorais. Todos os órgãos da Assembleia Nacional Popular foram
estruturados em função dessa vitória do PAIGC. E pior do que isso é que nós
estamos a falar duma presumível maioria que é estabelecida numa assembleia que
se reúne sem a constituição da mesa, e sem a verificação do quórum para o
efeito”, admitiu.
O político guineense realçou que tudo começou a 27 de Fevereiro com um “golpe
de Estado”: “Não é o que aconteceu no dia 29 de Junho que coloca quem está no
palácio da República e quem está no palácio do Governo. O que os coloca lá é o
golpe de Estado que foi dado no dia 27 de Fevereiro. E, portanto, pretender que
os acontecimentos do dia 29 os legitimem é realmente uma ilusão que eles têm.
Eles partem de um golpe e vão continuar a ser legitimados pelo golpe e nada
mais”, disse.
Domingos Simões Pereira também destacou o facto de os deputados do PAIGC ter
regressado aos trabalhos parlamentares: “Deviam estar a partir de quarta-feira
porque vão retomar a sua presença na Assembleia Nacional Popular com uma
declaração política. Uma declaração política para claramente se distanciar de
tudo aquilo que foi feito no dia 29 e no dia 30. Mostrar que não houve quórum
nem constituição da mesa. Portanto nenhuma deliberação que tenha sido registada
na altura é legal e é legítima”,disse.
No que diz respeito ao Programa do Governo, o antigo Primeiro-ministro não sabe
do que se trata e nem reconhece o Governo actual: “Começamos por não reconhecer
o próprio Governo. Eu não conheço esse Programa, esse Programa não foi
distribuído aos membros do Parlamento. Foram votados sem o conhecimento de quem
estava a votar. Mas há aqui um paradoxo ainda maior. Menos de 24 horas antes da
reunião da Assembleia Nacional Popular, o Presidente da República, o presumível
Presidente da República, o autoproclamado Presidente da República, exonera
cinco membros do Governo que se apresentam na Assembleia Nacional Popular no
dia 29 [...] a discutir presumivelmente o seu programa”, explicou.
“Ou seja, daqui mais uma semana ou duas
semanas, se voltarem a colocar o Orçamento Geral de Estado, provavelmente o
Presidente voltará a exonerá-los do cargo de membros do Governo, para irem
votar na Assembleia Nacional Popular. Isto é brincar com o país. Isto é brincar
com um Estado que se pretende de direito democrático”.
Domingos Simões Pereira também abordou a
questão dos cinco deputados que se juntaram à dita nova maioria na
segunda-feira: “O futuro deles será ditado pelos militantes e os dirigentes do
PAIGC. Nós temos um órgão que se chama Conselho Nacional da Jurisdição que tem
a responsabilidade, e é autónomo em relação à direção do partido, de fazer o
julgamento judicial. Eu, numa perspectiva mais pessoal, fico pelo lamento de
ver gente jovem, sucumbir ao aliciamento fácil”, sublinhou.
O político guineense desejou ainda que a Assembleia Nacional Popular funcione
normalmente: “Se o próprio órgão legislativo não respeita as leis, quem é que
vai cumprir? Quem é que vai respeitar? A paralisação da Assembleia é também uma
afirmação política. Nós, PAIGC, estamos convencidos de que não haveria
dificuldades nenhumas em estabelecer consensos mínimos para que as grandes
questões que preocupam os guineenses, possam ser resolvidas”, afirmou.
Por fim Domingos Simões Pereira adiantou que vai cumprir o seu mandato à frente
do Partido: “Eu sou o Presidente do PAIGC. Tenho um mandato a cumprir. Eu
ganhei as últimas eleições Legislativas na Guiné-Bissau. Eu tenho um processo
contencioso que está no Supremo Tribunal de Justiça e eu espero que algum dia
se crie para que a verdade eleitoral seja conhecida pelo povo guineense.
Adiantou que, vai cumprir o seu mandato. “Eu vou ouvir por parte dos órgãos superiores do Partido aquilo que é a avaliação que eles fazem do meu desempenho e enquanto democrata estou preparado para aceitar qualquer que for a orientação que esses órgãos superiores pretendem dar ao futuro do Partido e ao meu enquadramento dentro desse futuro”, concluiu.ANG/RFI
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