Ajuda ao Desenvolvimento/França anuncia mudança estratégica em relação aos países africanos
Bissau, 18 Dez 20 (ANG) – O Governo francês anunciou quinta-feira
uma mudança estratégica na assistência ao desenvolvimento dos países africanos,
em resposta ao aumento da influência política e económica da China neste
continente, na qual privilegia as questões ambientais e sociais.
“É inconcebível dar
rédea solta aos novos atores que vemos empenhados no campo da ajuda ao
desenvolvimento”, assumiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le
Drian, numa conferência de imprensa onde este também o seu homólogo da
Economia, Bruno Le Maire, realizada em Paris no final do primeiro conselho
presidencial dedicado especificamente à ajuda ao desenvolvimento.
Os novos atores, que
incluem a China, a Turquia e a Rússia, têm visto a sua influência no continente
africano crescer, nuns casos devido ao enorme volume de empréstimos e
financiamentos que têm feito, como no caso da China, o maior credor de países
como Angola, e noutros devido à influência política que manifestam nas
relações, como no caso da Turquia e da Rússia.
“Têm métodos e intenções
que implicam que estejamos presentes para propor aos nossos parceiros um novo
caminho” de ajuda ao desenvolvimento, salientou o chefe da diplomacia francesa,
que lembrou os quase 11 mil milhões de euros disponibilizados no ano passado e
que será aumentado para que o montante passe de 0,44% do PIB para 0,55% até
2022.
As declarações dos
governantes surgem um dia depois de ter sido apresentado um projecto de lei
para “dar um novo impulso” à nova política de desenvolvimento, que é “o
culminar de três anos de trabalho” e que marcará uma “mudança de velocidade” que
se traduz “não apenas por fazer mais, mas também fazer melhor”.
De acordo com a agência
de notícias francesa, a AFP, este novo modelo de ajuda ao desenvolvimento, que
surge num momento particularmente difícil para os países africanos, em plena
crise económica agravada pela pandemia de covid-19, vai centrar a ajuda nas
doações.
Para além de privilegiar
as doações, a França vai redefinir as prioridades temáticas, apostando em temas
como a saúde, o clima, a preservação da biodiversidade, a educação e a igualdade
de género, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, anunciando também um
fundo para apoiar a inovação para o desenvolvimento, que será presidido pela
economista Esther Duflo.
“A recessão está a
agravar a dívida pública destes países muito para além das suas capacidades
económicas e de pagamento”, disse o ministro da Economia, lembrando que a
dívida pública média em função do PIB triplicou na última década e que o
continente deve enfrentar uma recessão inédita de 3% este ano.
A França é um dos países
impulsionadores da Iniciativa da Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), que
permitiu um adiamento dos pagamentos de dívida para mais de 40 países dos 73
elegíveis.
O ministro da Economia
lembrou a decisão recente do G20 de alargar a moratória até Junho do próximo
ano e a definição de um enquadramento comum para tratar a questão da dívida, na
qual participam a China e os credores privados, bem como a realização em Maio
de uma cimeira, em Paris, sobre a dívida pública africana, que envolverá todos
os países do G20 e os restantes atores envolvidos no tema.
“Queremos desenvolver
uma reflexão a longo prazo sobre o financiamento das economias africanas”,
disse Bruno Le Maire, defendendo que a cimeira tem de “encontrar soluções muito
eficazes, rápidas e oportunas”.ANG/Inforpress/Lusa
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