Moçambique/ONU alerta para situação
humanitária “extremamente crítica” em Cabo Delgado
Bissau, 28 Dez 20 (ANG)
– A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique descreveu hoje a
situação humanitária em Cabo Delgado como “extremamente crítica”, apontando o
abrigo e alimentação como as principais necessidades das populações deslocadas
devido à violência armada.
“A situação dos
deslocados e das comunidades acolhedoras é extremamente crítica. Estamos muito
preocupados, há várias crianças com clara evidência de subnutrição, há falta de
abrigo e água tratada”, disse Myrta Kaulard, em entrevista à Lusa, em Maputo.
Para fazer face às
necessidades das populações afectadas, a ONU lançou, na última semana, um apelo
de 254 milhões de dólares (208 milhões de euros), um montante que visa
responder às necessidade de 1,1 milhões de pessoas durante o próximo ano,
incluindo os que se refugiaram nas províncias de Niassa e Nampula, vizinhas de
Cabo Delgado.
“As necessidades estão a
aumentar, começámos o ano de 2020 com 90 mil deslocados e agora temos mais de
meio milhão”, lamentou Myrta Kaulard.
A segurança alimentar e
o abrigo estão entre os principais pontos de destaque no plano de assistência
da ONU, com uma verba de 136 milhões de dólares (111 milhões de euros) e 28
milhões de dólares (23 milhões de euros), respectivamente, de um total de 254
milhões de dólares necessários.
Em Junho, a ONU lançou
um apelo e conseguiu mobilizar 43,5 milhões de dólares (35 milhões de euros),
acima dos 35,5 milhões de dólares (30 milhões de euros) que haviam sido
solicitados, para o plano de resposta rápida em Cabo Delgado.
“A comunidade
internacional respondeu muito bem ao nosso apelo de Junho e conseguimos
assistir perto de 400 mil pessoas. Mas agora a situação está pior e mesmo neste
momento que estamos a falar, temos pessoas que estão a fugir das zonas onde
vivem, das suas aldeias”, observou Myrta Kaulard, acrescentando que a pressão é
maior agora porque, devido à crise provocada pela covid-19, a comunidade
internacional tem poucos recursos.
“Estamos muito
preocupados porque esta situação pode provocar mais pressão e tensões entre as
comunidades acolhedoras e as deslocadas. A situação é mais complicada
particularmente para os jovens, que podem ficar mais vulneráveis a discursos e
a manipulações dos próprios terroristas”, declarou a coordenadora.
A violência armada em
Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África,
para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com
mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos,
concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
Algumas das incursões
passaram a ser reivindicadas pelo grupo fundamentalista Estado Islâmico desde
2019.ANG/Inforpress/Lusa
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