C. Social/50 jornalistas
mortos em 2020 sobretudo em países não em guerra
Bissau, 29 Dez 20 (ANG) - A ong
Repórteres sem Fronteiras - RSF revelou esta terça-feira que 50 jornalistas foram mortos em 2020 no
exercício da sua profissão, sobretudo em países considerados em paz e durante
manifestações.
Trata-se de um número estável em comparação com os 53 casos
registados em 2019, mas, segundo a ONG, preocupante, pois 34 jornalistas
foram mortos em países oficialmente não em guerra, casos do México
(8), Índia (4), Paquistão (4), Filipinas (3) e Honduras (3).
O documento da ong Repórteres sem
Fronteiras - RSF - divulgado nesta terça-feira, 29 de dezembro, é a
segunda parte do relatório anual desta organização, depois da publicação,
a 14 de dezembro, do levantamento de 367 jornalistas detidos
desde janeiro, com destaque para o aumento de 35% do número de mulheres
jornalistas detidas arbitrariamente, bem como o aumento das violações de
liberdade de imprensa, devido às leis de excepção ou medidas de emergência
adoptadas devido à pandemia da Covid-19.
Em 2016, 58% dos jornalistas assassinados
foram mortos em zonas de conflito, mas em 2020, cerca de dois terços das
mortes de profissionais (68%) ocorreram em países "ditos em paz" e
a proporção de jornalistas mortos em países em guerra como na Síria e
no Iémen, ou assolados por conflitos de baixa ou média intensidade casos do
Afeganistão e do Iraque é de 32%, segundo a RSF.
Entre 1 de janeiro e 15 de dezembro
de 2020, apesar da redução de reportagens devido às restrições impostas
pela pandemia da Covid-19, de todos os jornalistas mortos, 84% foram deliberadamente alvejados e
assassinados, contra 63% em
2019.
Parte desses crimes ocorreu em condições
particularmente bárbaras e
sórdidas, com destaque para o México e a Índia, onde jornalistas foram decapitados, esquartejados ou
mortos à facada, sendo que os jornalistas de investigação são
particularmente visados, 10 dentre eles foram "deliberadamente
eliminados" pelas suas investigações em casos de corrupção
e desvio de fundos públicos, 4 por inquéritos sobre máfia e
crime organizado e 3 outros por investigação sobre temas ligados a questões de
meio-ambiente, pode ler-se no relatório.
Mas a RSF releva um fenómeno novo ocorrido
em 2020: sete repórteres foram
mortos enquanto cobriam protestos, 4 no Iraque, 2 na Nigéria e 1 na
Colômbia.
No México, o jornalista Julio Valdivia Rodríguez, que trabalhava para
o diário El Mundo, foi encontrado decapitado no estado de Veracruz e o seu colega Víctor
Fernando Álvarez Chávez, redactor-chefe do site de notícias local Punto x
Punto Noticias, foi esquartejado em
Acapulco.
Na Índia, o repórter Rakesh Singh “Nirbhik”, do diário Rashtriya
Swaroop, foi queimado vivo,
depois de ser borrifado com uma solução alcoólica altamente inflamável,
enquanto Isravel Moses, correspondente de uma estação de televisão do estado de
Tamil Nadu (sul), foi esfaqueado e
não resistiu aos ferimentos.
No Iraque, que enfrenta há pouco mais de um ano um movimento popular
a favor de reformas e contra a corrupção no governo, três jornalistas foram
baleados na cabeça por homens armados não identificados, quando faziam a
cobertura dos protestos e um quarto profissional morreu no Curdistão enquanto
tentava escapar dos confrontos que opunham polícias e manifestantes. Casos
semelhantes ocorreram na Nigéria e
na Colômbia.
No Irão, segundo a RSF, o "carrasco" dos jornalistas é o próprio
Estado.
A 12 de dezembro passado, a
execução por enforcamento do
jornalista Rouhollah Zam, condenado à morte após um julgamento apontado como
injusto, chocou o mundo, pois "apesar de o Irão ainda adoptar a pena de
morte, há 30 anos que nenhum jornalista era vítima de um tal castigo
arcaico e bárbaro", cita o documento.
“A violência mundial continua a atingir
os jornalistas”, lamenta o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire e grande parte
do público considera que os jornalistas são vítimas dos riscos da profissão,
embora sejam cada vez mais agredidos quando investigam ou fazem reportagens
sobre assuntos delicados. "O que está fragilizado é o direito à
informação, que é um direito de todos os seres humanos”, declara Deloire.
A Federação Internacional
de Jornalismo contabilizou 2.658 jornalistas mortos desde 1990.
Em Moçambique, Ibraimo
Abú Mbaruco, jornalista e locutor da rádio comunitária de Palma, em
Cabo Delgado, no norte do país, desaparecido
desde 7 de abril de 2020 é um dos 4 jornalistas cujo
desaparecimento é apontado pela RSF em 2020. ANG/RFI
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