Senegal/ONU alerta que a fome está a alastrar na África Ocidental
Bissau,
19 Abr 23(ANG) – A fome está a aumentar e a alastrar na África Ocidental,
afetando cerca de 48 milhões de pessoas – maior número dos últimos dez anos -,
que enfrentam a insegurança alimentar na região assolada por conflitos,
advertiu hoje a ONU.
Impulsionada
principalmente pela violência, bem como pelas consequências económicas da
pandemia da covid-19 e da inflação, a insegurança alimentar está a ter um forte
impacto no Burkina Faso, Mali, Níger, norte da Nigéria e na Mauritânia,
alertaram hoje em Dacar, em conferência de imprensa, fontes da ONU.
As
mesmas fontes disseram que, pela primeira vez, cerca de 45.000 pessoas na
região do Sahel estão à beira da insuficiência alimentar, a um passo de
distância da fome.
A
grande maioria, 42.000, encontra-se no Burkina Faso, acrescentaram.
“A
situação é preocupante”, disse Ann Defraye, uma especialista regional em
nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na África
Ocidental e Central.
“No
ano passado, assistimos a um grande aumento (31%) do número de crianças
admitidas em estabelecimentos de saúde com graves desperdícios em todo o Sahel.
Em muitas áreas, está a tornar-se muito mais difícil para as famílias
encontrarem alimentos nutritivos para comer, especialmente onde existem
comunidades bloqueadas”, acrescentou.
A
violência ligada à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico assola há
anos o Burkina Faso e o Mali.
Os
fundamentalistas islâmicos bloquearam dezenas de aldeias na região, cortaram o
acesso às zonas agrícolas e armadilharam estradas com explosivos, dificultando
a livre circulação dos residentes e forçando as agências de ajuda a prestar
assistência humanitária somente por via aérea, o que torna as operações muito
mais dispendiosas.
À
medida que os civis fogem dos ataques e os fundamentalistas islâmicos expandem
as suas ações no Burkina Faso, a fome também se espalha através da fronteira
para os vizinhos Togo e Benim.
Estima-se
que cerca de 1 milhão de pessoas esteja em insegurança alimentar no Benim e no
Togo, quase o dobro do número em 2021, de acordo com a ONU.
Pela
primeira vez, aqueles dois países pediram ajuda a organizações humanitárias
para lidarem com o afluxo de pessoas deslocadas e refugiados.
“Estamos
realmente preocupados com os países costeiros. Se não se fizer o suficiente no
Burkina (Faso), o risco de um número crescente de pessoas ter de atravessar a
fronteira para encontrar refúgio seguro ou oportunidades de subsistência porque
não podem utilizar as suas terras ou porque o seu gado foi atacado aumentará”,
frisou Alexandre Le Cuziat, um conselheiro sénior de emergência do Programa
Alimentar Mundial na África Ocidental e Central.
“Ainda
há uma janela de prevenção nos países costeiros, mas está a fechar-se
rapidamente. Vimo-la fechar-se rapidamente no Sahel”, disse Le Cuziat, que
defendeu que as organizações humanitárias, governos regionais e países doadores
precisam de tirar lições da crise de insegurança noutros países e tentar
mitigar as consequências nos Estados costeiros.
ANG/Inforpress/Lusa
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