Moçambique/EI reivindica 27 ataques
que provocaram 70 mortos em Moçambique
Bissau, 28
Fev 24 (ANG) - O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria de
27 ataques em vilas "cristãs" no distrito de Chiùre, Cabo Delgado,
norte de Moçambique, em que afirma terem morrido 70 pessoas nos últimos dias.
Através dos canais de
propaganda do grupo, que documenta estes ataques com fotografias, é referida
ainda a destruição de 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito
do sul da província de Cabo Delgado, conforme declarações a que a Lusa teve
hoje acesso.
As autoridades
moçambicanas não comentam a situação operacional, mas a Lusa ouviu nos últimos
dias, na vila de Chiùre, relatos de deslocados que chegam à localidade sobre
ataques, destruição de hospitais, escolas e casas, além de mortos, provocados
em diferentes aldeias do distrito pelos insurgentes.
O governador de Cabo
Delgado, Valige Tauabo, afirmou na segunda-feira à Lusa que os atos
"macabros" que assolam há duas semanas o sul daquela província
moçambicana são protagonizados por "grupinhos" de "extremistas
violentos", mas que ainda acredita na reconciliação.
Em causa estão os vários
ataques em diferentes aldeias de distritos no sul de Cabo Delgado, sobretudo em
Chiùre, depois de nos últimos anos, desde 2017, as ações dos insurgentes se
terem concentrado no centro e norte da província.
"Está havendo um
grupinho fazendo assustar as pessoas nas comunidades e as pessoas só de ouvirem
que são eles, que são os extremistas que estão aí a vir, cria pânico nas
aldeias", reconheceu à Lusa, em Pemba, capital da província, o governador
Valige Tauabo.
Trata-se de "ações
macabras que estão a ser protagonizados pelos extremistas violentos e que
desaguam mesmo no terrorismo", apontou.
"No sul da
província não era comum as ações que eram realizadas no norte e centro",
afirmou Tauabo, reconhecendo que estes ataques têm provocado o "pânico nas
comunidades", sobretudo de Chiùre.
"Ficaram agitadas,
todas. E não é para menos", lamentou.
Só para a vila de
Chiùre, o último refúgio relativamente seguro naquele distrito, a autarquia
local estima que já fugiram mais de 13.000 pessoas nos últimos dias, num fluxo
permanente de novos deslocados, que chegam após vários dias de caminhada.
Os ataques insurgentes
em Cabo Delgado começaram em 2017, mas o governador recorda que a partir de
Novembro de 2022 a população que se tinha deslocado do norte e centro para os
distritos no sul, "procurando segurança" -- estima-se que mais de um
milhão de pessoas --, começaram a regressar às aldeias de origem.
"Em 2023 já se
fazia sentir um bem-estar, porque aquela população toda que tinha saído já se
encontrava nas suas aldeias (...) Já no fim de 2023 começaram bolsinhas a
aparecer, alguns nichos, com intervenções nas aldeias, mas com uma abordagem um
pouco diferente da que se viveu no passado", detalhou Valige Tauabo.
O Presidente da
República, Filipe Nyusi, tem reiterado publicamente nos últimos meses o apelo
ao regresso às suas comunidades dos jovens moçambicanos alegadamente recrutados
por estes grupos, garantindo que serão bem recebidos nas comunidades.
Uma reconciliação que o
governador entende ser necessária, para permitir o regresso dos
"muitos" moçambicanos que foram "forçados a juntar-se" aos
grupos insurgentes.
"É muito forte,
sobretudo quando sai do chefe de Estado. Também notamos que houve a entrega de
muitos e foi naquele período em que não houve nada", aponta, acreditando
que no terreno ainda está um "último grupo de jovens" que não aceita
essa reconciliação.
A província de Cabo
Delgado enfrenta há mais de seis anos uma insurgência armada com alguns ataques
reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta
militar desde Julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos
projetos de gás.
O conflito já fez um
milhão de deslocados, de acordo com dados das agências das Nações Unidas, e
cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.ANG/Angop
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