Cultura/Músicos dos Tabanka Djaz não veem “luz ao fundo do túnel” na Guiné-Bissau
Bissau,10 Out 22(ANG) - Os membros da banda Tabanka Djaz, originários da
Guiné-Bissau e que vivem em Portugal há 24 anos, admitem ter perdido a
esperança de voltar um dia à sua terra natal, onde não veem “luz ao fundo do
túnel”.
“Daquilo
que nós observamos, a médio e longo prazo, não vemos a luz ao fundo do túnel. E
isto é grave quando se pensa assim, e quando nós não temos nenhuma esperança.
Os nossos atores políticos são pessoas que pensam mais no seu umbigo do que no
próprio país”, lamentou Micas Cabral, cantor e guitarrista do grupo.
Em
entrevista à Lusa a propósito dos 30 anos de carreira da banda, que vão
celebrar com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 18 de novembro,
os músicos afirmaram acompanhar “com muita preocupação” a vida do seu
país de origem.
“Nós
acompanhamos, obviamente com muita preocupação, pois é nossa terra, onde nós
nascemos, onde nós crescemos. (…) E, sinceramente, digo que a Guiné não está
num bom caminho. Como guineense que sou, para aquilo que eu conheço da
Guiné-Bissau, e da Guiné até que eu deixei [em 1998], não é Guiné que temos
hoje. Infelizmente, as coisas estão a seguir um caminho que (…) nos vai custar
muito caro futuramente”, disse por seu lado o teclista Jânio Barbosa.
Os
elementos da Banda saíram da Guiné-Bissau em 1998 porque concluíram que já não
tinham como desenvolver a sua música, contou Jânio Barbosa, recordando que
devido às dificuldades perderam muitos espetáculos fora do país.
Além
disso, em 1998 começou a guerra civil desencadeada pelo golpe de Estado contra
o então presidente João Bernardo “Nino” Vieira, o que ajudou a tomar a decisão:
“Foi uma situação em que também acabámos por ver, na verdade, ‘desta temos
de sair mesmo’", contou Jânio Barbosa.
Mais de
20 anos depois, Micas Cabral admite que um dia, quando puserem fim à sua
carreira, gostariam de voltar a viver no seu país, mas é um sonho que está
sempre adiado.
“Damo-nos
conta de que é algo que talvez já não poderemos viver (…). A Guiné vive uma
instabilidade terrível”, lamentou Micas Cabral. Para o seu irmão e baixista
da banda Juvenal Cabral, a Guiné-Bissau “parou no tempo completamente”.
“O
sistema educativo é praticamente nulo”, exemplificou, contando que a
insatisfação dos professores motiva greves, os alunos não têm aulas e os anos
letivos são cancelados. Para o músico, quem perde são os alunos, que são “os
guineenses do futuro”.
“São
eles que vão ter que pegar no país daqui a 10, 15, 20 anos. Como é que eles vão
fazer isso se não estão a ser preparados. Por isso é difícil ter esperança na
Guiné”, lamentou.
Recordando
a canção “Sperança”, que a banda lançou em 1996, o baixista afirmou que nessa
altura ainda se podia ter esperança, “mas hoje essa esperança já ficou um
bocado moribunda, como cantou Don Kikas em relação a Angola”.
Apesar
disso, Micas Cabral não desiste: “Temos fé que um dia aparecerá um guineense
que possa dar uma reviravolta nessa situação, para que possamos sentir-nos
orgulhosos novamente de sermos guineenses”.
O
grupo, que divulgou o ‘gumbé’, estilo musical da região de Bissau, e é uma
banda ícone da ‘world music’ e da música lusófona, com concertos “pelos
quatro cantos do mundo”, celebra em 18 de novembro os seus 30 anos de
carreira com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Além de
Micas Cabral, Juvenal Cabral e Jânio Barbosa, a banda atua em palco acompanhada
por Lars Arens, no trombone, Rodrigo Bento, no saxofone, Cláudio Silva, no
trompete, Paulinho Barbosa (teclas), Cau Paris (bateria), o percussionista
Kabum e a dançarina Sheila Semedo.ANG/Lusa