Turquia/Erdogan diz que carta aberta de almirantes pressupõe "golpe de estado"
Bissau, 06 Abr 21 (ANG) - O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan,
criticou hoje de forma virulenta um grupo de almirantes na reforma que
criticaram o projecto de um novo canal em Istambul, ao considerar que a sua
declaração pressupõe "um golpe de Estado político".
"O dever de almirantes
na reforma consiste em não emitir declarações que subentendem um golpe de
Estado político. Nenhum funcionário na reforma tem o direito de optar por
semelhante caminho", declarou Erdogan durante um discurso em Ancara.
"Isto nada tem
que ver com a liberdade de expressão. Num país cuja história está repleta de
golpes, isto é inaceitável", acrescentou Erdogan.
O chefe de Estado
turco pronunciava-se após uma reunião na Presidência com altos responsáveis
turcos, relacionada com uma carta aberta publicada no fim-de-semana por 104
antigos almirantes e em que alertam contra a ameaça que na sua perspectiva
poderá representar o projecto do "Canal Istambul" apoiado por
Erdogan, que poderá colidir com um tratado que garante a livre circulação pelo estreito
do Bósforo.
Erdogan considerou a
carta de "perversa", ao afirmar que na Turquia "os golpes de
Estado ocorreram sempre após semelhantes declarações".
O Governo argumenta
que o Canal Istambul permitirá fornecer à grande metrópole um novo polo de
atracção, e ainda aliviar a circulação marítima no Bósforo, um dos estreitos
mais congestionados do mundo.
Os opositores
argumentam que, para além do impacto ambiental, o projecto poderá comprometer a
Convenção de Montreux, estabelecida em 1936 e que garante livre passagem nos
estreitos do Bósforo e dos Dardanelos, em tempo de paz ou de guerra.
No entanto, o
tratado impõe restrições à passagem pelos estreitos turcos de navios de guerra
que não pertençam aos países ribeirinhos do mar Negro.
De acordo com
diversos observadores, citados pela agência noticiosa AFP, um eventual
questionamento do tratado através da construção do Canal Istambul poderá
facilitar o acesso ao mar Negro de navios de guerra norte-americanos, que a
Rússia encara com particular apreensão.
"A ligação feita
(pelos almirantes) entre o Canal Istambul e a Convenção de Montreux é
totalmente falsa", afirmou Erdogan.
"Não temos a
intenção de abandonar (o projecto). Caso se sinta essa necessidade no futuro,
poderemos alterar qualquer convenção para que o nosso país siga em
frente", acrescentou.
"Consideramos
importantes as vantagens que Montreux oferece ao nosso país, e permanecermos
associados a este acordo até encontrarmos melhores oportunidades",
assegurou ainda.
Dos 104 almirantes
assinaram a carta aberta, dez foram hoje colocados em prisão preventiva.ANG/Angop
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