França/Onda de calor está a sufocar a Europa
Bissau, 02 Jul 25 (ANG) - O sul da Europa está confrontado
neste momento com uma onda de calor, com registo de temperaturas de 46 graus em
Espanha nesta segunda-feira. Portugal, Itália e França também batem recordes de
temperatura.
As
temperaturas estão a disparar nestes últimos dias um pouco por toda a Europa. Em
França a temporada mais alta cifra-se nos 38°C para a região parisiense.
Esta
onde de calor está a ter várias consequências para os habitantes em França. A
nível nacional, 1 350 escolas públicas foram parcial ou totalmente
encerradas nesta terça-feira, num total de 45 000 estabelecimentos
escolares.
Todos os serviços de emergência estão
preparados em França e em alerta máximo para reagir a qualquer incidente.
Em
França, esta é a 50ª vaga de calor desde 1947, e a 33ª desde que entrámos no
Século XXI, isto num contexto de mudanças climatéricas
que aumenta o número desde acontecimentos.
De referir que a causa deste calor intenso é uma abóbada de calor que impede o ar de
circular, impedindo a entrada de perturbações.
De notar que em Portugal, em Mora, a cem quilómetros a Leste da
capital portuguesa, Lisboa, registou um novo recorde de temperaturas, no mês de Junho, no domingo, 29
de Junho, com 46,6°C.
O precedente recorde tinha sido 44,9°C
registado em Alcácer do Sal a 17 de Junho de 2017.
Carlos
Pereira, climatologista no Instituto português do
mar e da atmosfera, admitiu que as ondas de calor se
têm estado a intensificar nas últimas décadas.
Carlos
Pereira: De
facto, nas últimas décadas, as ondas de calor têm-se intensificado bastante. A
frequência, principalmente das ondas de calor, tem-se verificado cada vez mais.
Portanto, nós temos exemplos recentes do século XXI. Por exemplo, em 2003, a
grande onda de calor na Europa, que afectou também a França de forma bastante
significativa, com muitas mortes associadas. Temos também a onda de calor em
2010, que afectou mais o Leste europeu e a zona da Rússia, mas também nos
últimos anos bastante recentes. Por exemplo, em 2019, em 2022 ou em 2023. E
também aqui na Península Ibérica, em 2018 e em 2022, tivemos ondas de calor que
quebraram recordes de extremos de temperatura. Portanto, as ondas de calor, de
facto, têm se tornado mais frequentes e mais intensas. Quando olhamos para
estas últimas décadas, em comparação com aquilo que sabemos que aconteceu no
passado, nas décadas de 70, 80 e 90, elas também ocorriam, mas não com a
frequência que tem ocorrido nos últimos anos.
RFI:
Isto significa que porventura, vamos ter que aprender a lidar melhor com estas
situações, poder co-existir, co-habitar com elas?
Sim, de facto. E agora falando um pouco em
sustentação científica, não é ? Aquilo que a ciência nos mostra, portanto,
todos os artigos científicos, muitos deles publicados em revistas de grande
factor de impacto. Portanto, todos esses artigos e a ciência assim o indica que
o futuro passará por ondas de calor com uma maior duração, portanto mais
intensas, E este tipo de fenómeno climatológico que se repita de forma cada vez
mais frequente. Portanto, isto claro que acontece devido ao aquecimento do
planeta. Portanto, e o aquecimento do planeta, no fundo, é o homem que o vai
provocando no fundo de nós próprios como humanidade e que escolhemos o caminho
que queremos seguir. Portanto, ou queremos seguir um caminho mais ligeiro, com
menos impacto nas alterações climáticas. Mas para isso, os países do mundo
teriam que adoptar medidas bastante drásticas de redução de emissões de CO2,
entre outras.
Para
evitar a subida da temperatura, não é?
Para evitar a subida da temperatura, sim, a
temperatura global, que depois também tem efeitos regionais, embora em média
global. Quando falamos de 1,5 graus de dois graus, estamos a falar na média
global, não é? Mas depois...
Limitar
a subida da temperatura a 1,5 graus .. essa seria a meta do Acordo de Paris.
Mas tudo indica que não vamos conseguir cumpri-lo de forma alguma, não é?
Sim, de facto, a meta do Acordo de Paris eu
diria que está praticamente fora da equação, não é? Portanto, nós o nosso
caminho agora segue-se para os dois graus, e já com bastante esforço. Portanto,
o nosso caminho possivelmente será um cenário intermédio. Eu não quero pensar
no cenário gravoso, não é? Portanto, claro, também não quero ter uma
perspectiva muito catastrofista da situação. Mas, de facto, nós caminhamos para
um cenário que já não é o cenário inicialmente previsto como sendo um cenário
mais ligeiro do Acordo de Paris.
Falava
em lógicas regionais. De facto, imagino que nenhuma região do globo escape a
esta contingência. Fala-se do facto dos pólos estarem a derreter. Agora estamos
a falar da Europa, no caso do Sul da Europa, mas não há nenhuma região do globo
que fique imune a esta realidade, pois não?
Existem algumas regiões do globo, segundo as
projecções, que podem eventualmente escapar a maior severidade, mas
praticamente todo o globo está sujeito a isso. As zonas dos
trópicos...verifica-se o aumento da temperatura nas projecções, mas não de uma
forma tão significativa como, por exemplo, as latitudes médias. As latitudes
onde vivemos ou, por exemplo, os pólos que realmente têm um sinal de
amplificação da temperatura bastante elevado. Quando analisamos os cenários
futuros. Mas quando eu digo a nível regional é que de facto, quando falamos de
dois graus de temperatura média global, isso reflecte-se em valores muito
superiores de anomalia de temperatura. Depois, regionalmente, na zona da
Península Ibérica, podemos falar de três, quatro graus ou, acima disso, de
anomalia de temperatura esperada para o futuro. Portanto, e aqui entramos,
portanto, num cenário muito mais preocupante, porque depois são quebrados
recordes de temperatura máxima e temperatura mínima, mas principalmente das
temperaturas máximas, como temos verificado nos últimos dias.
E
o grande constrangimento, talvez, se prenda com o facto do arrefecimento
noturno ser mínimo e as pessoas terem dificuldade em recuperar. Em relação ao
cansaço que isto provoca, não é?
Sim, de facto, embora não a minha
especialidade não seja tanto na parte da saúde, mas de facto, temperaturas
mínimas muito elevadas não permitem o que nós chamamos de recuperação térmica
nocturna. Portanto, nós, até mesmo as casas não conseguem recuperar a
temperatura durante a noite, não conseguem atingir um valor mais baixo durante
a noite, para também potenciar um melhor conforto térmico de quem lá habita.
Portanto, as nossas próprias casas acabam por acumular o calor ao longo dos
dias.
Elas
não arrefecem..
Pois claro, não arrefecem. Isto, obviamente
que depois tem implicações bastante dramáticas na saúde das pessoas,
principalmente as pessoas que vivem mais isoladas e que têm doenças
respiratórias ou que têm problemas de saúde.ANG/RFI