Governação perde terrenos em relação às necessidades
da população
Bissau, 30 out 18 (ANG) - O progresso da governação pública está a
perder terreno em relação às necessidades e expectativas de uma população em
crescimento, composto sobretudo por jovens, indica o Índice Ibrahim de
Governação Africana (IIAG) de 2018, publicado segunda-feira, pela Fundação Mo Ibrahim.
De acordo com aquela organização, apesar do forte crescimento do
PIB ao longo dos últimos 10 anos, África não tem conseguido gerar oportunidades
económicas para a sua população jovem em expansão
Indica que em média, ao longo da última década, a Governação
Global manteve uma trajetória ascendente moderada, com três em cada quatro
cidadãos africanos (71,6%) a viverem num país em que a governação melhorou.
O informe sublinha que os governos africanos não conseguiram
converter o crescimento económico em melhorias no Desenvolvimento Económico
Sustentável para os seus cidadãos.
Desde 2008, refere o IIAG, a classificação média africana em
termos de Desenvolvimento Económico Sustentável aumentou 0,1 pontos, o
equivalente a apenas 0,2%, apesar de um aumento continental do PIB de quase 40%
durante o mesmo período.
Não se têm praticamente registado progressos na criação de
Desenvolvimento Económico Sustentável, o que significa que esta se mantém como
a categoria com pior desempenho e progresso mais lento do Índice.
Analisando a medida em que os governos possibilitam aos seus
cidadãos a prossecução de objectivos económicos e prosperidade nos mesmos, a
tendência de quase estagnação do Desenvolvimento Económico Sustentável traça um
contraste preocupante com o crescimento demográfico e as expectativas dos
jovens. A população africana aumentou 26% nos últimos 10 anos e 60% dos 1,25
mil milhões de habitantes do continente têm agora menos de 25 anos.
O relatório diz que o os países africanos apresentam
divergências de desempenho crescentes em termos de Governação Global. O
progresso continental é impulsionado sobretudo por 15 países que conseguiram
acelerar o seu ritmo de evolução nos últimos cinco anos, destacando como os
mais notórios a Côte D’ivoire, Marrocos e Quénia.
Esta divergência também se reflecte nas variações de resultado
do Desenvolvimento Económico Sustentável. Embora 27 países de África tenham
demonstrado alguma melhoria, em 25 países, que representam 43,2% dos cidadãos
africanos, o desempenho em termos de Desenvolvimento Económico Sustentável
piorou nos últimos 10 anos.
Contudo, adianta o documento, não existe uma forte
correspondência entre a dimensão da economia de um país e o seu desempenho em
termos de Desenvolvimento Económico Sustentável. Em 2017, quatro dos 10 países
com o PIB mais elevado do continente continuam a classificar-se abaixo da média
africana em termos de Desenvolvimento Económico Sustentável e permanecem na
metade inferior das tabelas, nomeadamente a Argélia, Angola, a Nigéria e o
Sudão. Ao mesmo tempo, duas das mais pequenas economias do continente,
Seicheles e Cabo Verde, alcançam as 5.ª e 6.ª posições mais elevadas na
prestação de Desenvolvimento Económico Sustentável aos seus cidadãos.
Refere que o declínio em Ambiente Comercial é incompatível com o
crescimento da população em idade activa. A trajetória da classificação
africana média em termos de Ambiente Comercial merece atenção especial. Com uma
deterioração de quase -5,0 pontos nos últimos dez anos, esta é uma tendência
preocupante tendo em conta que, para os próximos dez anos, se prevê um
crescimento de quase mais 30% no número de africanos em idade ativa (15-64
anos).
Tal crescimento aumentará a procura de emprego num contexto em
que o progresso médio do Desenvolvimento Económico Sustentável é quase
inexistente. Estes números demográficos criam um contraste ainda mais acentuado
com a queda de -3,1 pontos na Satisfação com a Criação de Emprego desde 2008.
Além disso, o indicador que mede a Promoção da Integração
Socio-económica dos Jovens regista um declínio continental médio de -2,3 pontos
na última década.
Quanto a educação, refere que há motivos adicionais para
preocupação com a Educação. Embora o Desenvolvimento Humano seja uma das
maiores histórias de sucesso do IIAG 2018, fruto das melhorias na Saúde, a
estagnação do progresso na Educação a que se assistiu no Índice do ano passado
converteu-se agora em declínio.
Para 27 países, as pontuações em termos de Educação registaram
deterioração nos últimos cinco anos, o que significa que, para mais de metade
(52,8%) da população jovem africana, os resultados em educação estão a piorar.
Esse declínio é motivado por uma queda nos indicadores que avaliam a medida em
que a Educação atende às necessidades da economia, a qualidade da educação e as
expetativas dos cidadãos quanto ao ensino.
A Participação e Direitos Humanos tem progredido em média. Quase
quatro em cada cinco cidadãos africanos (79,6%) vivem em países que progrediram
nesta dimensão ao longo da última década. Porém, as eleições executivas “livres
e justas” nem sempre se traduzem num ambiente participativo melhor. É alarmante
que o espaço político e cívico dos cidadãos africanos esteja a diminuir, com
tendências de agravamento nos indicadores que medem a Participação da Sociedade
Civil, os Direitos e Liberdades Civis, a Liberdade de Expressão e a Liberdade
de Associação e Reunião.
Progressos
positivos em Estado de Direito e em Transparência e Responsabilização,
essenciais para um desempenho governativo robusto
Embora a Segurança Pessoal e a Segurança Nacional continuem a apresentar um declínio médio ao longo da última década, o Estado de Direito e a Transparência e Responsabilização começaram a registar um progresso positivo. O Estado de Direito é a sub-categoria do IIAG que regista a maior melhoria ao longo dos últimos cinco anos. O desempenho africano médio em termos de Transparência e Responsabilização também evoluiu, embora seja necessário fazer mais, já que continua a ser a sub-categoria com pior desempenho do Índice.
Embora a Segurança Pessoal e a Segurança Nacional continuem a apresentar um declínio médio ao longo da última década, o Estado de Direito e a Transparência e Responsabilização começaram a registar um progresso positivo. O Estado de Direito é a sub-categoria do IIAG que regista a maior melhoria ao longo dos últimos cinco anos. O desempenho africano médio em termos de Transparência e Responsabilização também evoluiu, embora seja necessário fazer mais, já que continua a ser a sub-categoria com pior desempenho do Índice.
O IIAG realça que os direitos e o bem-estar dos cidadãos são
essenciais para o progresso da governação pública. As pontuações de Governação
Global estão fortemente correlacionadas com as medidas centradas nos cidadãos,
incluindo os direitos de propriedade, os direitos e liberdades civis, a
responsabilização na governação e as políticas de bem-estar social.
Os resultados do IIAG confirmam ainda que o Estado de Direito e
a Transparência e Responsabilização são pilares fulcrais da boa governação.
Essas duas subcategorias apresentam as relações mais fortes com as pontuações
de Governação Global em África, sendo o desempenho forte nestas áreas a
componente mais comum nos países com bom desempenho. A Transparência e
Responsabilização está também fortemente relacionada com a categoria
Desenvolvimento Económico Sustentável e a subcategoria Ambiente Comercial, o
que indica que as melhorias nestas áreas ajudarão ao progresso e ao
desenvolvimento de oportunidades económicas em África.
A Fundação Mo Ibrahim foi criada em 2006, e está orientada para
a importância crucial da liderança e da governação em África, providenciando
ferramentas para aferir e apoiar o progresso na liderança e na governação.
O
Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG) faculta uma avaliação da qualidade
da governação nos países africanos e constitui a mais abrangente recolha de
dados sobre a governação no continente. ANG/Angop
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