Burkina Faso/Ex-soldado participou no assassinato de Thomas
Sankara
Bissau,28 Out 21(ANG) – Um antigo soldado
do Burkina Faso admitiu terça-feira
perante o tribunal militar que está a julgar o assassinato de Thomas Sankara e
de 12 companheiros em 1987 que participou no massacre que vitimou o primeiro
presidente burquinabé.
O soldado, Yamba Elise Ilboudo,
afirmou que em 15 de Outubro de 1987, dia do golpe em que foi morto o “pai da
revolução burquinabé”, estava em “casa de Blaise Compaoré” – irmão de armas e
amigo próximo de Sankara, que viria a sucedê-lo no poder e o manteve com “mão
de ferro” até Outubro de 2014 – quando Hyacinthe Kafando, então chefe da
segurança, lhe “pediu para conduzir um carro” para ir à sede do Conselho
Nacional da Revolução, onde decorreu o massacre.
“Quando lá chegámos, Kafando e
‘Maïga’, que conduzia o carro de Blaise Compaoré, saíram e dispararam à toa”,
afirmou o ex-soldado, citado pela agência France-Presse (AFP), sem indicar o
primeiro nome de Maïga.
A testemunha afirmou que permaneceu no
veículo, sem disparar, e relatou vários detalhes do massacre. Depois dos
primeiros disparos, Yamba Elise Ilboudo viu Thomas Sankara “sair da sala de
reuniões, com as mãos no ar e a perguntar o que se passava”.
“Foram Hyacinthe Kafando e Maïga que
dispararam contra ele. Não sei quem alvejou primeiro o presidente Sankara. Ele
caiu de joelhos e depois sobre o seu lado esquerdo”, afirmou a testemunha.
Yamba Elise Ilboudo admitiu a acusação
de “cumplicidade num ataque à segurança do Estado”, mas negou a premeditação do
golpe, assegurando que não tinha participado em qualquer reunião preparatória
dos eventos em julgamento.
“Não sabia que íamos realizar um golpe
de Estado, quanto mais tirar a vida a alguém”, afirmou.
“Mataram a sangue frio o presidente
Sankara, que saiu com as mãos no ar e sem armas”, reforçou Ferdinand Nzapa,
advogado da família Sankara, que sublinhou a cooperação do acusado.
Antes do início do interrogatório, o
tribunal ouviu ficheiros áudio e visionou vídeos datados de 1987, nos quais
Blaise Compaoré justifica os acontecimentos de 15 de Outubro, resultantes,
segundo o ex-presidente burquinabé, de “diferenças fundamentais que surgiram ao
longo de um ano sobre questões operacionais do processo revolucionário”.
Num dos ficheiros, Compaoré, que tinha
participado no golpe de Estado de 1983 que levou Thomas Sankara ao poder,
apresenta o companheiro de armas como um “traidor da revolução que exercia um
poder autocrático” e “pessoal”.
“Os outros camaradas tinham decidido
demiti-lo” ou forçá-lo a “demitir-se”, terá acrescentado Compaoré, justificando
a “necessidade de uma rectificação”.
“Braço direito” de Sankara, Blaise
Compaoré sempre negou ter sido o mandatário do massacre.
Doze de 14 acusados estão presentes no
julgamento, incluindo o general Gilbert Diendere, 61 anos, um dos principais
líderes do exército durante o golpe de 1987, e chefe da segurança de Compaoré
durante a sua presidência.
Compaoré manteve-se no poder até 31 de
Outubro de 2014, ano em que foi deposto por uma revolta popular quando tentava
alterar a Constituição do país e garantir a perpetuação no poder. Vive desde
então na Costa do Marfim, onde obteve a cidadania, que lhe garante agora não
ser extraditado para ser julgado no Burkina Faso, por uma “entidade judicial de
excepção”, como sublinharam os seus advogados antes do início do julgamento.
“O presidente Blaise Compaoré não
comparecerá – assim como nós também não – no julgamento político organizado
contra ele pelo tribunal militar de Ouagadougou, ou seja, uma entidade judicial
de excepção”, anunciaram os advogados franceses e burquinabés de Compaoré numa
declaração.
Os advogados, Pierre-Olivier Sur e
Abdoul Ouedraogo, afirmaram ainda que Compaoré nunca foi “convocado para
qualquer interrogatório” e que “nenhum acto lhe foi notificado, exceto a sua
citação final para comparecer perante a jurisdição de julgamento”.
As circunstâncias da morte de Sankara
foram mantidas em total segredo durante o período em que Blaise Compaoré esteve
no poder e isso, só por si, faz aumentar as suspeitas de que ele possa, de
alguma forma, ter estado envolvido ou ter tido conhecimento. Até que ponto foi
cúmplice ou participou no assassinato, tem que ser estabelecido.
Na terça-feira, o tribunal deferiu um
pedido dos advogados de defesa, pedindo a libertação dos arguidos que tinham
sido detidos dois dias antes da abertura do julgamento.
Onze deles irão beneficiar desta
libertação provisória. Apenas o general Diendéré permanecerá detido, porque
está a cumprir uma pena de 20 anos de prisão por uma tentativa de golpe de
Estado em 2015.
Thomas Sankara, que chegou ao poder
num golpe de Estado em 1983, foi morto com 12 dos seus companheiros por um
comando durante uma reunião na sede do Conselho Nacional da Revolução (CNR) em
Ouagadougou. Tinha 37 anos.
ANG/Inforpress/Angop
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