COP26/ África é o continente mais prejudicado e obriga a migração de 86 milhões – Banco Mundial
Bissau,
28 Out 21(ANG) – O Banco Mundial alertou hoje que as alterações climáticas
terão o maior impacto em África e poderão obrigar 86 milhões de africanos a
saírem de suas casas e estabeleceram-se noutras regiões do seu país.
“O
relatório Groundswell Africa aponta que o continente vai ser o mais duramente
atingido pelas alterações climáticas, com até 86 milhões de africanos a terem
de migrar nos seus próprios países até 2050”, lê-se num comunicado do banco,
divulgado nas vésperas da 26.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas
(COP26), que começa no domingo, em Glasgow, Escócia.
O
relatório, que se concentra na África Ocidental e nos países da região oriental
que partilham o Lago Vitória (Uganda, Quénia e Tanzânia), aponta que “com os
países a passarem por aumentos de temperatura, chuvas erráticas, inundações e
erosão costeira, os africanos vão enfrentar desafios sem precedentes nos
próximos anos” e aponta várias linhas de acção política necessárias para
mitigar os efeitos.
“Os
impactos das alterações climáticas, como escassez de água, colheitas e
produtividade menores nos ecossistemas, aumento do nível do mar e tempestades
vão cada vez mais forçar as pessoas a migrarem, já que alguns sítios serão
menos propícios por causa do calor, eventos extremos e perda física de
terrenos”, lê-se no documento.
Entre
as acções políticas recomendadas está a definição de um objectivo zero para as
emissões de carbono, planeamento a longo prazo com preocupações ambientais,
investimentos na recolha de dados para melhores decisões políticas e investimentos
em capital humano que se foque em empregos sustentáveis e produtivos.
O
relatório ‘Groundswell Africa’ surge nas vésperas da reunião de Glasgow e
alguns dias depois de o Banco Mundial ter apresentado o ‘Pulsar de África’, o
mais importante documento sobre as economias africanas, lançado no âmbito dos
Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
“Os
países abundantes em recursos não renováveis precisam de gerir a transição para
um mundo descarbonizado, já que a procura global por matérias-primas de energia
não renováveis vai fazer descer o preço dessas matérias-primas”, escrevem os
peritos do Banco Mundial, apontando os casos da Nigéria e de Angola, os dois
maiores produtores de petróleo na África subsaariana.
“O
afastamento do petróleo, gás e carvão coloca riscos para o valor da riqueza de
países que são abundantes nestas energias, como Nigéria e Angola, mas também
para países com descobertas recentes de petróleo e gás, como Moçambique, Quénia
e Senegal”, lê-se no Pulsar de África.
As
políticas nestes países “devem ser desenhadas de forma a fomentar a
diversificação através do apoio à acumulação de capital humano e capital
natural renovável, diminuindo o défice de infra-estruturas”, aponta o banco,
defendendo também uma gestão prudente das receitas, que podem ajudar a
financiar esses investimentos.
Para
o Banco Mundial, “implementar uma política fiscal coerente que inclua
incentivos fiscais direccionados, reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis
e alguma forma de fixação do preço do carbono são decisões críticas para
fomentar o investimento privado e a inovação em energia limpa e outras
actividades verdes”.
Milhares
de especialistas, activistas e decisores políticos reúnem-se a partir de
domingo em Glasgow na 26.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26),
com o objectivo principal de travar o aquecimento do planeta.
As
alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres,
o maior problema da humanidade, e vão afectar dramaticamente o futuro se nada
de substancial for feito.
As
emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no
Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afectar o
clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Em
África, as necessidades energéticas estão estimadas em 700TW, o que é 4.000
vezes mais do que os 175GW de capacidade eólica e solar que o mundo inteiro
adicionou em 2020, por isso “África não se pode industrializar recorrendo
apenas à energia solar e eólica”, apontam os economistas.
Dos
1,3 mil milhões de africanos, 600 milhões não têm acesso a electricidade e a
Agência Internacional da Energia estima que o número suba 30 milhões devido à
pandemia de covid-19.
Há 48
países na África subsaariana, excluindo a África do Sul, que emitem apenas
0,55% das emissões de CO2, mas sete dos dez países mais vulneráveis às
alterações climáticas estão nesta região.
O
Banco Africano de Desenvolvimento estima que as necessidades financeiras destes
países para acomodarem as alterações climáticas rondam os 7 a 15 mil milhões de
dólares por ano, ou seja, entre 6 e 13 mil milhões de euros.
ANG/Inforpress/Lusa
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