quarta-feira, 22 de março de 2023

Moçambique/ Polícia nega acusações de excesso de autoridade contra manifestantes

Bissau, 22 Mar 23 (ANG) - A polícia de Moçambique recusa acusações de excesso de autoridade e justifica recurso a “armas de dispersão de massas” com o “princípio de proporcionalidade de forças e equidade de meios”.

Fernando Tsucana, vice-comandante geral da PRM, garante que as forças da ordem agiram num contexto de "fortes indícios de transição de uma manifestação pacífica para violenta". 

A Polícia da República de Moçambique descarta as críticas de excesso de força contra cidadãos que no sábado, 18 de Março, pretendiam marchar pacificamente para homenagear o músico Azagaia, falecido a 09 de Março.

vice-comandante geral da PRM, Fernando Tsucana, garante que as forças da ordem agiram num contexto de "fortes indícios de transição de uma manifestação pacífica para violenta" e justifica recurso a “armas de dispersão de massas” com o “princípio de proporcionalidade de forças e equidade de meios”. 

A Polícia da República de Moçambique, constatando a existência de fortes indícios de transição de uma manifestação pacífica para violenta, decidiu preventivamente tomar medidas de polícia, desdobrando-se aos locais de concentração onde aconselhou e exortou aos manifestantes para não realizarem as marchas.

 

No entanto, houve desobediência às autoridades policiais proferindo injúrias, arremesso de objectos contundentes, confrontação física com agentes da polícia e, em alguns casos, houve tentativa de apossamento de arma de fogo.

Nestes termos, com vista a reposição da ordem de segurança pública, a PRM teve que recorrer ao uso de armas de dispersão de massas, armas não letais, em estrita observância ao princípio de proporcionalidade de forças e equidade de meios.

No entanto, foram registados 14 feridos, que após o tratamento, 13 tiveram alta e um continua internado.

Na sequência foram retidos, processados e respondem em liberdade um total de 36 cidadãos, sendo 20 na cidade de Maputo, três na cidade de Nampula, sete na cidade de Chimoio e seis na cidade da Beira.

A PRM apela à participação activa de todas as forças vivas da sociedade, no respeito aos órgãos democraticamente eleitos, a evitar qualquer confrontação com os membros da polícia em exercício das suas funções e reitera que não irá tolerar qualquer tentativa de agressão.

Partidos da oposição e organizações da sociedade civil nacionais e internacionais repudiam a carga policial contra manifestantes pacíficos e acrescentam que a acção violou direitos e liberdades fundamentais.

Um dos rostos da marcha de homenagem ao rapper Azagaia reprimida pelas autoridades no sábado, acabou por perder o olho esquerdo depois de ter sido atingido por uma bala de borracha disparada pela polícia. Inocêncio Manhice fala de dores intensas, porém garante que “a luta continua”.

Inocêncio Machice acabou por ficar como uma das faces da marcha de homenagem ao rapper Azagaia reprimida pelas autoridades no sábado, 18 de Março de 2023, depois de ter aparecido nos ecrans a aquestionar as autoridades políciais: “Querem me matar à bala? Eu já morro de fome. Uma bala vai-me matar em menos de 30 segundos, mas a fome mata-me todos os dias”. 

Poucos minutos depois, o manifestante foi atingido com uma bala de borracha que lhe tirou o olho esquerdo. 

Em entrevista à agência Lusa, sublinha que até ao momento não foi contactado pelas autoridades. Inocêncio Manhice, de 34 anos, diz continuar a sofrer de dores intensas, todavia garante que não vai baixar os braços: 

Eles mataram-me [no sábado].

Atingiram-me com uma bala no olho e posteriormente atiraram cápsulas de gás lacrimogéneo. (...) Eu não tenho medo (...)

A única certeza que tenho é que o sangue de Samora [Machel], o sangue de Azagaia e o sangue de Uria Simango, vão clamar por justiça”.

A repressão policial da marcha pacífica de homenagem a Azagaia, chamado de ‘rapper do povo', conduziu à contestação popular e à violência por parte de vários agentes em Maputo. As organizações da sociedade civil que prepararam a iniciativa tinham autorizações dos respectivos municípios.ANG/RFI

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