São Tomé e Príncipe/Oposição exige demissão do ministro da Defesa e Administração Interna
Bissau, 23 Mar 23 (ANG) – O MLSTP/PSD, maior partido da oposição são-tomense, exigiu quarta-feira a demissão do ministro da Defesa e responsáveis das Forças Armadas, após a acusação do Ministério Público contra 23 militares pelas mortes de quatro homens no assalto ao quartel.
“O MLSTP/PSD insta o
senhor Presidente da República a tomar uma posição firme sobre tudo o que se
está a passar no país e tudo fazer para repor a normalidade constitucional e o
normal funcionamento das instituições, a começar pela divulgação do relatório
da CEEAC sobre os acontecimentos de 25 de novembro e a convocação urgente do
Conselho de Estado, enquanto órgão político de consulta do Presidente da
República”, lê-se no comunicado da comissão política do Movimento de Libertação
de São Tomé e Príncipe/Partido Social-Democrata, datado de terça-feira.
“Exigimos também que os
senhores ministro da Defesa, o vice-chefe de Estado-Maior das FASTP [Forças
Armadas de São Tomé e Príncipe] e o comandante do exército sejam demitidos de
imediato das suas funções em defesa da imagem e credibilidade do Estado São-tomense”,
acrescenta o comunicado, lido pelo seu vice-presidente, Gabdulo Quaresma.
Na sexta-feira, o
Ministério Público são-tomense acusou 23 militares, incluindo o ex-chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas Olinto Paquete e o atual vice-chefe do
Estado-Maior, pela tortura e morte de quatro homens no assalto ao quartel das
Forças Armadas em novembro.
De acordo com o despacho
de instrução preparatória do Ministério Público (MP) de São Tomé e Príncipe, a
que a Lusa teve acesso, Olinto Paquete – que pediu demissão do cargo de chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas dois dias depois do ataque, ocorrido em 25
de novembro de 2022 -, o vice-chefe do Estado-Maior, Armindo Rodrigues, e o
comandante do exército, coronel José Maria Menezes, são acusados, “em autoria material,
por omissão, com dolo eventual” de 14 crimes de tortura e outros tratamentos
cruéis, degradantes ou desumanos graves e de quatro crimes de homicídio
qualificado.
Em causa está o ataque
ao Quartel do Morro, em São Tomé, ocorrido na noite de 24 para 25 de novembro,
após o qual três dos quatro civis assaltantes – que agiram com a cumplicidade
de alguns militares – e um outro homem – identificado como o orquestrador do
ataque e detido posteriormente pelos militares - foram submetidos a maus-tratos
e acabaram por morrer no mesmo dia, nas instalações militares.
Para a acusação, o
assalto consistia na primeira fase de um plano que visava a “subversão da ordem
constitucional”.
O MP, que pede a
demissão dos militares acusados, entende que aqueles três arguidos nada fizeram
para proteger os detidos nem impedir as agressões e “sabiam que, com o seu
comportamento omissivo, violavam deveres funcionais a que estavam sujeitos como
militares, decorrentes do exercício das funções que desempenhavam à data,
designadamente os deveres de proteção, de autoridade, de zelo e de correção” e
“agiram de forma livre e consciente”.
Para o MLSTP, “não se
pode admitir” que com a formalização dessas acusações por parte do MP, “o
Governo continue a agir como se estivesse tudo normal, chegando ao ponto de
promover e conceder louvores a pessoas, cujo verdadeiro papel nesta trama toda
ainda não está devidamente esclarecido”.
“Reconhecendo o
princípio da presunção de inocência, consagrado na nossa Constituição e nas
leis, não podemos deixar de questionar o seguinte: O senhor primeiro-ministro
tem medo de quê? Está a proteger quem? Porquê tantas contradições e
incoerências durante este processo? Por que não retira as consequências
políticas desses atos e demite o senhor ministro da Defesa, o vice-chefe do
Estado-Maior e o comandante do exército? O senhor tem a noção do estrago que
esta sua posição tem causado à imagem e credibilidade externa do Estado
são-tomense?”, questionou o MLSTP/PSD.
O ministro da Defesa e
Administração Interna, Jorge Amado, foi presidente e líder parlamentar do
MLSTP/PSD, e ocupou a pasta da Defesa Nacional em 2022 durante o último
ano do Governo (2018-2022) liderado por Jorge Bom Jesus (MLSTP).
A comissão política do
MLSTP/PSD considerou que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada (Ação
Democrática Independente, com maioria absoluta no parlamento), está “a
afundar-se num mar de contradições e incoerências cada vez que se pronuncia
sobre este processo” dos acontecimentos de 25 de novembro, por defender a
presunção de inocência dos militares acusados, mas não o ter feito em relação
aos acusados, em fevereiro, pelo assalto ao quartel e outras figuras da
oposição citadas na investigação.
“O senhor
primeiro-ministro assobia para o lado e fala em presunção de inocência,
chegando ao cúmulo de afirmar que não vai demitir ninguém até conhecer o
resultado final do julgamento”, lê-se no comunicado do MLSTP/PSD.
O partido congratulou-se
com a publicação pelo Ministério Público da “acusação formal aos elementos das
FASTP envolvidos, por acção ou omissão, nos macabros assassinatos e a
confirmação das causas das mortes, por tortura selvagem e maus tratos
agravados”, mas diz ter ficado “uma vez mais, com a sensação que o Ministério
Público poderia e deveria ir mais além, porque faltou identificar quem foi o
mandante, ou os mandantes desses hediondos crimes”.
“Os comissários não
compreendem a razão para não se ter feito a perícia aos telemóveis dos
principais protagonistas desta acção, como aconteceu no inquérito do assalto ao
quartel, de forma a se clarificar com que responsáveis políticos essas pessoas
falaram e a que horas esses telefonemas foram realizados”, acrescenta.
“Considerando que estão
concluídos os dois inquéritos instaurados pelo Ministério Público, motivo
apontado pelo senhor primeiro-ministro para fugir ao debate com a oposição, a
comissão política orientou a bancada parlamentar do MLSTP/PSD a introduzir,
ainda esta semana, um novo pedido de debate de urgência na Assembleia Nacional,
para que esses assuntos sejam debatidos na casa da democracia”, anunciou o
partido.
“Esperamos que, desta
vez, não haja 'manobras' por parte do senhor primeiro-ministro e da senhora
presidente da Assembleia [Nacional], para voltarem a negar a concretização
deste direito legítimo dos partidos da oposição”, refere o partido, o segundo
mais votado nas legislativas de setembro passado, com 18 assentos no parlamento
composto por 55 deputados.
O MLSTP/PSD apelou às
instituições judiciais, organizações internacionais e representações
diplomáticas instaladas no país, para que estejam atentas à situação do arguido
Bruno Afonso “Lucas”, o único dos quatro assaltantes que sobreviveu, preso
preventivamente pelo envolvimento do assalto ao quartel, “de forma a que
medidas sejam tomadas para que este não tenha o mesmo destino que as outras
quatro vítimas mortais”.
Por outro lado, o
partido do ex-primeiro-ministro Jorge Bom Jesus criticou as recentes
deslocações dos membros do Governo aos distritos e a Região Autónoma do
Príncipe (RAP) para auscultação da população para a elaboração do Orçamento
Geral do Estado, após quatro meses de governação.
“Num país com sérias
dificuldades financeiras, ao ponto de o Governo não conseguir pagar os salários
dos funcionários públicos a tempo e horas, o senhor primeiro-ministro decide entrar
de novo em campanha eleitoral, gastando rios de dinheiro público, fazendo
deslocar uma comitiva de mais de 30 viaturas e 100 pessoas aos distritos para
ir ouvir as mesmas reclamações e reivindicações que as populações fizeram nas
campanhas eleitorais e, em algumas localidades, vêm fazendo nos últimos 12
anos, dos quais esse senhor foi primeiro-ministro por duas vezes e Governou 6
anos, sendo 4 anos com maioria absoluta e nada resolveu”, reclama o MLSTP/PSD.
“Como justifica a ida à
RAP, com todos membros do Governo e as respetivas viaturas, com altos custos de
frete do avião e barco, quando quase todos os membros do Governo já estiveram
recentemente de visita à RAP, de forma a se inteirarem dos problemas sectoriais
que a região enfrenta? Não foi este, um pretexto para o senhor
primeiro-ministro ir comemorar o seu aniversário na ilha irmã, num dos melhores
hotéis do país, a custa do sacrifício dos contribuintes são-tomenses?
O maior partido da
oposição pediu ainda a reação do primeiro-ministro e as eventuais consequências
face a acusação de um grupo de técnicos das florestas contra o ministro da
Defesa denunciado por alegado abate ilegal de árvore em violação de um
despacho do próprio executivo. ANG/Lusa
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