Portugal/Amnistia assinala violações dos direitos dos migrantes e à habitação
Bissau, 28 Mar 23 (ANG) – As “milhares de pessoas” que vivem em habitações sem condições e a exploração de trabalhadores migrantes do setor agrícola são problemas destacados em relação a Portugal no relatório da Amnistia Internacional (AI) 2022/23 divulgado segunda-feira.
A organização de defesa
dos direitos humanos refere ser igualmente preocupante a “brutalidade policial”
no país, problema que tem vindo a assinalar há vários anos, assim como o facto
de continuarem a ser “inadequadas as salvaguardas contra a violência baseada no
género”.
O Relatório 2022/23 da
Amnistia Internacional: O Estado dos Direitos Humanos no Mundo assinala ainda
que Portugal falha também no combate à crise climática e à degradação
ambiental.
“O governo (português)
tomou medidas insuficientes para melhorar as condições habitacionais e garantir
habitação acessível suficiente, apesar dos dados divulgados no final de 2021
mostrarem que mais de 38.000 pessoas precisavam de casa”, indica o relatório,
referindo também “relatos de despejos forçados” que deixaram algumas pessoas
sem-teto, uma situação que, segundo a AI, “afetou desproporcionalmente ciganos
e afrodescendentes”.
Em relação aos direitos
dos refugiados e migrantes, o trabalho recorda as reportagens jornalísticas que
“expuseram condições de trabalho abusivas e habitações inadequadas” de
empregados no setor agrícola na região de Odemira, principalmente de países do
sul da Ásia.
“Em junho, o Grupo de
Peritos sobre o Tráfico de Seres Humanos (do Conselho da Europa), que visitou o
país em 2021, notou que o tipo de exploração mais comum continuava a ser a laboral,
afetando especialmente os setores agrícola e de restauração”.
A organização com sede
em Londres indica, por outro lado, que em julho de 2022 e após a revisão
periódica de Portugal, o Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação
contra a Mulher considerou insuficientes quer a legislação, quer os serviços
para lidar com a violência de género contra as mulheres, expressando
preocupação “com as taxas de abandono escolar entre as raparigas ciganas devido
a casamentos infantis e/ou forçados e gravidez precoce”, questões que,
observou, “eram muitas vezes ignoradas pelas autoridades”.
Sobre as alterações
climáticas, a AI assinala que “mais de 1000 pessoas morreram de causas
relacionadas com ondas de calor extremas” em Portugal no ano passado, bem como
o facto de 60,4% do país ter registado seca severa e 39,6% seca extrema.
Segundo a ONG, o relator
especial da ONU para os Direitos Humanos e o Meio Ambiente declarou em
setembro, após uma visita a Portugal, que “as autoridades precisavam de
acelerar o ritmo de ação para enfrentar, em particular, a poluição do ar e a
gestão de resíduos e prevenir incêndios florestais”.
O relatório da AI sobre
o ano passado realça “a existência de dois pesos e duas medidas em todo o mundo
em matéria de direitos humanos e a incapacidade da comunidade internacional se
unir de forma consistente na proteção dos direitos humanos e dos valores
universais”.
"A Declaração
Universal dos Direitos Humanos foi criada há 75 anos, a partir das cinzas da
Segunda Guerra Mundial. A sua essência é o reconhecimento universal de que
todas as pessoas têm direitos e liberdades fundamentais. Mesmo que a dinâmica
do poder global esteja um verdadeiro caos, os direitos humanos não podem ser
perdidos na desordem. Por outro lado, são os direitos humanos que devem guiar o
mundo à medida que se multiplicam os contextos cada vez mais instáveis e
perigosos. Não podemos esperar que o mundo volte a arder", diz Agnès
Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, citada num comunicado de
divulgação do relatório. ANG/Lusa
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