Bissau,13
Abr 20(ANG) - A recomendação
feita pelas autoridades sanitárias guineenses para que a população use máscaras caseiras, para evitar a propagação do
novo coronavírus, está a dividir estilistas com uns a aplaudirem a ideia e
outros a afirmaram ser foco de contágio.
Tumane
Baldé, um dos porta-vozes do COES (Comité Operacional de Emergência em Saúde),
instituição que luta contra a pandemia do covid-19 na Guiné-Bissau, sugeriu o
uso de máscaras para, por exemplo, a ida ao mercado.
"Como
as máscaras estão caras, os guineenses podem utilizar as suas capacidades para
criar máscaras de proteção. Aconselho a população a usar máscaras quando vão
aos mercados comprar alimentos", afirmou o médico Tumané Baldé.
Aurora
Almeida, criadora de moda a residir em Bissau,segundo a Lusa, é
totalmente contra o uso de máscaras caseiras a partir de tecido africano, e diz
que pode ser "um desastre na Guiné-Bissau em relação à propagação do
vírus".
"As
pessoas vivem nas comunidades, onde não têm água canalizada, nós aqui apanhamos
água de uma fonte, onde é que se vai arranjar água para lavar essas máscaras de
duas em duas horas", questionou a modista.
Aurora
Almeida referiu já ter assistido a situações em que pessoas da mesma casa
trocam entre si uma máscara cirúrgica para saírem à rua.
"Utilizar
essas máscaras caseiras pode ser um desastre porque vai-nos dar a sensação
errada de estarmos protegidos", disse Aurora Almeida, que recusou uma
proposta de um promotor para confeção de máscaras caseiras.
Alfa
Canté, outro conhecido estilista guineense, até compreende que o pano africano
não seja o mais adequado para a confeção de máscaras caseiras, mas utilizando
"um certo tipo de tecido é possível fazer máscaras com pano
africano", enfatizou.
Canté
disse que tomando certas precauções técnicas, nomeadamente a forragem da
máscara em duas camadas é possível produzir protetores com sete centímetros de
cumprimento e cinco de largura.
Atualmente
fez cerca de 600 unidades de máscaras que já ofereceu a instituições estatais,
às Forças Armadas, hospitais, e centros de reclusão de Mansoa e Bafatá.
Alfa
Canté recebe aconselhamento de médicos sobre que tipo de panos pode usar na
confeção das suas máscaras.
Segundo
a Lusa, Saturnina da Costa, estilista guineense a residir no Brasil, mas
bastante interventiva nas redes sociais à volta do uso de máscara caseira,
disse que o pano africano "tem
muita tinta, que é um produto químico" que pode ser prejudicial à saúde
humana, observou.
"A
minha preocupação é que a nossa gente pode começar a usar máscaras sem serem
higienizadas, o que pode ser um grande problema", defendeu Saturnina da
Costa que também é contra a ideia de forrar o tecido.
Para
Saturnina da Costa, utilizar uma máscara com pano africano, ainda mais forrado
em duas camadas, é como "investir num suicídio lento". Observa que a
regra manda a que sejam utilizadas, no mínimo, quatro máscaras caseiras diárias
quando se sai à rua para as trocas.
A
estilista guineense está atualmente a confecionar máscaras, mas, frisa, a
partir de um laboratório, para oferecer aos hospitais da cidade brasileira onde
vive, respeitando todas as regras de higiene.
Saturnina
da Costa nota que não é fácil fazer uma máscara em casa, dentro dos padrões de
higiene recomendáveis, disse.
Alfashion
Gilmar, estilista guineense residente em Londres chamou a atenção sobre o facto
de os panos africanos fazerem alergia à certas pessoas, mas, disse que desde
que sejam tomadas as precauções com o tipo de tecido a utilizar não vê mal
nenhum em confecionar máscaras caseiras com aquele material.
Adele
Gomes, criadora de moda guineense formada no Brasil, dona de um ateliê em
Bissau, desaconselha o uso de pano africano na confeção de máscaras caseiras,
alertando sobre "o químico que é utilizado na estampagem daquele
material".
"Isso
pode prejudicar a saúde, porque ao inspirar e respirar o pano fica
molhado", sublinhou Adele Gomes, que aconselha as autoridades sanitárias
guineenses a estudarem os panos antes de sugerirem a confeção de máscaras
caseiras.
Gomes
frisou que existem tecidos contra indicados para o uso humano, ainda mais para
utilizar como máscara, alertou.
"Nós
africanos, principalmente nós guineenses, não tomamos cuidado, ainda vamos
inalar mais vírus de que outra coisa", observou Adele Gomes.
A
Guiné-Bissau já tem 39 casos confirmados de covid-19 e dezenas de casos
suspeitos sendo três já curados.
O novo
coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 107 mil
mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos
casos de infeção, quase 345 mil são considerados curados.
Depois
de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que
levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
Em
África, há registo de 700 mortos num universo de mais de 13 mil casos em 52
países.ANG/Lusa
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