Justiça/Processo da PGR contra juízes do Supremo Tribunal de Justiça é político ”,
dizem
juristas
Bissau,29 Jun 20(ANG) - Dois juristas guineenses
disseram no último fim de semana que a
notificação do procurador-geral da República da Guiné-Bissau(PGR) para ouvir os
sete juízes do Supremo Tribunal de Justiça sobre a última sessão plenária é
"política" e "não tem pernas para andar".
"Eu
acredito ser o início de um plano para desmontar o poder judicial",
afirmou à Lusa o advogado e antigo presidente da Liga Guineense dos Direitos
Humanos, Luís Vaz Martins.
Segundo
Luís Vaz Martins, a convocatória visa apenas Rui Nené, vice-presidente do
Supremo Tribunal de Justiça (STJ) do país.
Uma
sessão plenária do STJ acabou abortada, no passado dia 17, quando em cima da
mesa estava a apreciação do contencioso eleitoral interposto naquela instância
por Domingos Simões Pereira, candidato declarado pela Comissão Eleitoral como
tendo sido derrotado nas presidenciais de dezembro de 2019.
Seis
dos sete juízes agora convocados para comparecerem na Procuradoria acusaram, na
altura, o vice-presidente do órgão, Rui Nené, de ter inviabilizado a sessão ao
recusar prosseguir com os trabalhos, por ter abandonado a sala da plenária.
"Ele
não abandonou a sessão, ele abriu e encerrou a sessão. Não vejo de que crimes
vão ser acusados. O processo não tem pernas para andar", afirmou Marcelino
Ntukpe, professor na Universidade Colinas de Boé, advogado e assessor jurídico
no parlamento.
Para
Luís Vaz Martins, não há nenhum ato que "consubstancie a prática de um
crime".
"É
o início da grande marcha, do grande plano, para de facto pôr em causa o poder
judicial", disse o advogado.
Questionado
pela Lusa sobre quem estaria a pôr em prática essa "grande marcha",
Luís Vaz Martins disse tratar-se do "senhor Umaro Sissoco Embaló
[Presidente guineense], que já admitiu que esta investida terá maiores
repercussões".
"Isto
faz parte de um plano anunciado que está pura e simplesmente a ser
materializado", acrescentou.
Marcelino
Ntukpe explicou também que a audição de juízes tem de ser autorizada pelo
Conselho Superior de Magistratura, que é presidido pelo presidente do STJ.
"O
Conselho Superior de Magistratura é presidido pelo presidente do Supremo
Tribunal de Justiça e é ele que convoca a reunião e o vice-presidente só pode
convocar se lhe for delegado esses poder", afirmou.
O
professor universitário salientou também que todos ouviram a declaração do
Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, a dizer que "tem um
destino para os juízes".
"Sabemos
que a figura de procurador-geral da República é vulnerável porque é nomeado
pelo poder político e não é menos verdade que o atual está ao serviço do
Presidente da República", afirmou.
Mas,
segundo Marcelino Ntukpe, para desmantelar o poder judicial tem de se utilizar
a via judicial, algo que considerou que "vai ser difícil".
"Não
vejo qual o magistrado que vá aceitar que os magistrados sejam ouvidos pelo
Ministério Público", comentou.
"Neste
momento, há um sistema bem montado por parte do poder político para de facto
atingir o Supremo Tribunal de Justiça", afirmou. ANG/Lusa
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