Covid-19/Polícias europeias foram
racistas durante confinamento”,diz Amnistia
Bissau, 25 jun 20 (ANG) - As polícias europeias mostr
aram um “padrão perturbador de preconceito racial” nas tentativas de fazer cumprir as regras de confinamento no âmbito da covid-19, aplicando violência desproporcional a minorias étnicas e marginalizados, denuncia quarta-feira a Amnistia Internacional.A actuação da polícia
teve um impacto desproporcional em áreas mais pobres, que costumam ter maior
proporção de moradores de grupos étnicos minoritários, acusa a organização num
relatório denominado “Policiar a Pandemia” e que foi hoje divulgado.
Segundo a Amnistia
Internacional, o documento, que abrange 12 países (Bélgica, Bulgária, Chipre,
Eslováquia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália, Sérvia, Reino Unido e
Roménia), expõe “um padrão perturbador de preconceito racial, que está ligado a
preocupações com o racismo institucional dentro das forças de segurança e
outras questões mais amplas levantadas nos recentes protestos do movimento
‘Black Lives Matter’”.
“A violência policial e
as preocupações com o racismo institucional não são novas, mas a pandemia de
covid-19 e a aplicação coerciva das regras de confinamento demonstram o quão
prevalentes são”, afirmou o investigador da Amnistia Internacional para a
Europa Ocidental, Marco Perolini.
“As triplas ameaças de
discriminação, uso ilegal da força e impunidade policial devem ser enfrentadas
com urgência na Europa”, defendeu.
Como exemplo, a
organização humanitária aponta o caso de Seine-Saint-Denis, a zona mais pobre
da França continental, onde a maioria dos habitantes é negra ou de origem
norte-africana.
Nesta zona, “o número de
multas por violação do confinamento foi três vezes superior ao resto do país,
apesar de as autoridades locais afirmarem que o cumprimento das regras foi
semelhante”, refere o relatório, acrescentando que Nice, um bairro francês
predominantemente da classe trabalhadora e com minorias étnicas, “foi submetido
a ordens de recolher mais longas face ao que acontecia no resto da cidade”.
Também a polícia de
Londres registou um aumento de 22% nas operações de controlo, entre Março e
Abril, sendo que, durante esse período, a proporção de negros revistados
aumentou quase um terço.
De acordo com o
relatório, o Laboratório de Provas da Amnistia Internacional observou 34 vídeos
de toda a Europa que mostram a polícia a usar força desnecessária e ilegal.
Num dos vídeos
recolhidos pela organização humanitária, depois de ter sido publicado ‘online’
em 29 de Março, vê-se, segundo a Amnistia Internacional, dois polícias a
mandarem parar um jovem descendente do norte da África, nas ruas de Bilbao, em
Espanha.
Apesar de o jovem não
apresentar nenhuma ameaça aparente, um polícia empurrou-o violentamente e
bateu-lhe com um bastão, enquanto dois outros o mantinham encostado à parede
com as mãos atrás das costas.
Nesse momento, a mãe do
jovem apareceu e disse aos polícias que o seu filho sofria de problemas de saúde
mental, mas os agentes bateram na mulher e derrubaram-na, mantendo-a no chão.
Alguns dos vizinhos que
estavam a filmar a cena foram multados por “recolha não autorizada de imagens
de agentes da autoridade”.
Mais para leste, a
discriminação começou logo com decisões governamentais, quando foram impostas
quarentenas obrigatórias a todos os acampamentos de ciganos da Bulgária e da
Eslováquia, sublinhou a organização humanitária.
No caso da Eslováquia, o
exército foi mobilizado para cumprir essa ordem, o que a Amnistia Internacional
considera uma medida desproporcional.
Na Bulgária, as
quarentenas obrigatórias levaram a que mais de 50 mil ciganos ficassem isolados
do resto do país, tendo a situação chegado “à escassez de alimentos”.
Neste país, as autoridades
da cidade de Burgas usaram mesmo drones com sensores térmicos para medir
remotamente a temperatura dos residentes e monitorizar os seus movimentos.
No caso dos refugiados,
requerentes de asilo e migrantes que vivem em campos e alojamentos partilhados,
as pessoas também foram alvo, segundo a Amnistia Internacional, de quarentenas
selectivas, como foi o caso em países como a Alemanha, o Chipre e a Sérvia,
além de terem sido registados “desalojamentos forçados” em França e na Grécia.
Na Sérvia, as autoridades
impuseram um regime especial que visava selectivamente centros de refugiados,
migrantes e requerentes de asilo, colocando-os “sob uma quarentena obrigatória
de 24 horas e mobilizando os militares para vigiar o toque de recolher”,
denuncia a organização.
“O Estado tem de parar
de impor quarentenas discriminatórias e expulsar à força ciganos, refugiados e
migrantes de acampamentos. Em vez disso, devem salvaguardar o direito dessas
pessoas a terem alojamento e cuidados de saúde”, defendeu a investigadora da
Amnistia Internacional para a União Europeia, Barbora Černušáková.
Outra discriminação
apontada pela Amnistia Internacional foi feita aos sem-abrigo.
Em Itália, a organização não-governamental Avvocato di Strada apurou pelo menos 17 casos em que pessoas sem-abrigo receberam multas por não conseguirem cumprir as medidas de isolamento e restrição de movimentos, situação que também terá acontecido em França, Espanha e no Reino Unido.ANG/Angop
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