quarta-feira, 17 de junho de 2020

Covid-19/Jornal braileiro revela uso de vacina anti-poliomelite em testes na Guiné-Bissau  

 Bissau, 17 jun 20 (ANG) - Um jornal brasileiro apontou a Guiné-Bissau como sendo palco de um estudo sobre o uso da vacina anti-poliomielite para o tratamento da covid-19, uma situação que está a merecer críticas dos guineenses.

 Miguel de Barros, ativista ambiental e social, foi quem denunciou o caso, através de uma série de publicações na sua página da rede social Twitter, em que questiona as autoridades sobre o estudo e os procedimentos observados.

 "Que lástima: Numa altura em que a Guiné-Bissau é dos Estados da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) mais afetados pela pandemia da covid-19, sem informações das autoridades nacionais, a imprensa internacional anuncia a projeção de testes (sem evidências) com 3.400 adultos no país através de entidades externas", escreveu Miguel de Barros.

 O jornal brasileiro Folha de São Paulo noticiou que o estudo, a ser orientado por uma equipa de pesquisadores americanos e dinamarqueses, vai começar brevemente e vai decorrer durante seis meses.

 A meta é testar o uso da vacina oral anti-poliomielite num grupo de 3.400 guineenses acima dos 50 anos, pessoas consideradas vulneráveis à infeção por covid-19, mas que ainda não tenham tido contacto com o vírus.


 
"O grupo vai receber a VOP (designação em sigla inglesa da vacina) ou placebo e será acompanhado durante seis meses, considerando tanto a transmissão e os sintomas da covid-19 quanto os efeitos de outras doenças infecciosas", escreve ainda o jornal brasileiro.

 O ativista Miguel de Barros refere que o estudo estaria a ser desenvolvido pelo projeto de Saúde de Bandim, um centro de pesquisas criado por cientistas dinamarqueses, em 1978, e que trabalha com crianças e mulheres de alguns bairros de Bissau.

 "Sabe-se que as autoridades guineenses autorizaram uma entidade privada a fazer testes na população sem comunicação pública. Aceitação e participação das pessoas deve ser algo livre e consciente, o contrário é crime! Confundir negócio na saúde com saúde pública é mera ilusão", defende ainda Miguel de Barros.


 
Magda Robalo, ex-ministra da Saúde Pública e atual alta-comissária contra a covid-19, escreveu na sua rede social Facebook que os guineenses têm razão para se preocuparem, mas pede calma.

 "Em relação à notícia em circulação sobre a pesquisa programada para a Guiné-Bissau, no quadro da procura de uma vacina contra o coronavírus, venho informar que, ao que parece, o processo de autorização do estudo terá seguido os trâmites legais", afirmou Robalo.

 A ex-ministra adiantou que as entidades envolvidas vão prestar esclarecimentos sobre o estudo "o mais rapidamente que lhes seja possível", mas exortou os guineenses a não se deixarem levar "pela teoria de conspiração".

 "Considero salutar o espírito de cidadania que motiva os questionamentos trazidos a público, mas aconselho calma e serenidade", frisou Magda Robalo.

 Miguel de Barros responde ao apelo da Magda Robalo para sublinhar que era fundamental respeitar pressupostos prévios do direito e ética, prestando informações públicas, fator que disse estar além da legalidade de autorização para pesquisas em humanos.

 "Desafio as autoridades a publicarem a lista de entidades interessadas e da comissão que validou os testes", instou Miguel de Barros.

 A Lusa tentou obter uma reação junto do Ministério da Saúde Pública guineense, mas ainda não obteve resposta.ANG/Lusa

 


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