Especial 24 de Setembro/“Houve erros e falta da experiência governativa por parte do partido libertador”, diz Pedro Ussumane Bari
Bissau, 23 Set 20 (ANG) - Pedro
Ussumane Bari, uma testemunha do primeiro tiro que assinalou o início da luta armada de
libertação nacional, em Tite diz que o problema que o país está a enfrentar se
deve aos erros cometidos após a independência, por falta da experiência de
governação do partido libertador.
Este veterano, em declarações à ANG, Jornal Nô Pintcha e RDN no quadro da celebração dos 47 anos da independência do país, que se assinala no dia 24 de Setembro, afirmou que no período em que o Luís Cabral era Presidente da República havia muitas fábricas que empregavam muitos jovens, e que o golpe de Estado de 14 de novembro interrompeu tudo.
Pedro Bari disse ainda que
os guineenses têm que unir para desenvolver o país, justificando que sem a união
a Guiné-Bissau não vai dar passo nenhum.
“Devemos unir e abraçar uns
aos outros porque sem a unidade não vamos à lugar nenhum. Independentemente de
gostar de uma pessoa ou não, se dissermos que iremos lembrar tudo o que passou
nesse país não haverá a união porque há pessoas que foram maltratadas durante
os 47 anos da independência”, sustentou.
Disse que a reconciliação
nacional de que se fala neste momento deve ser de verdade e não de pecado, tendo
pedido à Deus para que dê orientações aos governantes a fim de terem boas visões
para o desenvolvimento do país.
Por sua vez, Indjai Camará, ex-esposa
do ex-dirigente do PAIGC, Iafai Camará contou
que entrou na luta com 10 anos de idade após o primeiro tiro, em Tite, na
barraca de Gã-Tonghó .
“Quando foi dado o primeiro tiro no quartel de Tite, os nossos guerrilheiros retiraram e foram para Gã-Tonghó e quando os tropas portugueses souberam que estávamos naquela localidade foram nos atacar, saímos dali e fomos para o mato de Gã-Jabel e aí decidimos sair para Madina. Como eu era inteligente, Guerra Mendes me levou para Forea, mas quando ele morreu, voltei para para Quinará.
Indjai Camará contou que os
aviões dos colonialistas portugueses bombordeavam Quinará de manhã e à noite. Disse que os
guerrilheiros enfrentaram muitos
sacrifícios e fome.
“Passamos muitos sacrifícios, as vezes para
comer temos que receber comidas que a população nos ofereciam e era arriscado
para a população porque não podia ser vista pelos colonialistas. Comíamos no
cesto, para pilar o arroz temos que fazer buracos no chão bem profundo para
não fazer tanto barulho e fazíamos todo o jeito para que os fumos não fossem vistos”, explicou.
Indjai disse la
mentar o fato
de alguns combatentes estarem a
beneficiar de certos privilégios e outros não.
Bidan Matcha, outro combatente da liberdade da pátria disse que, o que mais lhe marcou foi a forma como foram mobilizados com a estratégia de que as armas dos portugueses não matavam porque nelas só saiam água e que a dos nacionais é que matam porque tinham balas de verdade.
Reiterou que passaram fome durante o período da luta e que
tiveram que, uma vez, a situação obrigou a ele e um grupo de guerrilheiros irem trabalhar na colheita de arroz na
Guiné-Conacri e como pagamento receberam
arroz.
A guerra da Independência da
Guiné e Cabo Verde começou em 23 de
janeiro de 1963, com o início das ações de guerrilha em Tite, Sul, e culminou
com a proclamação unilateral da independência, em 24 de setembro de 1973, nas
Colinas de Boé, Leste da Guiné-Bissau.
Portugal só veria a reconhecer a Guiné-Bissau como país
independente um ano depois, ou seja a 10 de setembro de 1974. ANG/DMG/ÂC//SG
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