Moçambique/UE pede
investigação a alegações “extremamente chocantes” da AI
Bissau, 18 Set 20 (ANG) - A Comissão Europeia considerou quinta-feira
"extremamente chocante" o recente relatório da Amnistia Internacional
sobre violações de direitos humanos no norte de Moçambique e reclamou uma
investigação transparente e efectiva, incluindo às alegações que envolvem
membros das forças de segurança, noticiou a Lusa.
Durante um debate sobre a situação no norte de Moçambique, realizado na sessão plenária do Parlamento Europeu que decorre em Bruxelas, a comissária europeia responsável pelas Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen,
que representou o executivo comunitário, iniciou a sua intervenção admitindo que, “hoje, o norte de Moçambique enfrenta uma nova ameaça, um surto de violência armada, com uma dimensão regional perigosa”.
“Gostaria de começar por reiterar a
nossa solidariedade com o povo de Moçambique. Temos uma relação política e de
desenvolvimento forte com Moçambique e estamos prontos a discutir opções para
assistência. Congratulo-me também por vos informar que o Governo e a UE abriram
um diálogo político focado em desenvolvimentos humanitários e questões de
segurança em Cabo Delgado”, disse.
A comissária europeia lembrou então que,
“nas conclusões de abril do Conselho, a UE enfatizou que, independentemente da
urgência, qualquer resposta à violência no norte deve garantir o respeito total
pelos direitos humanos”, para se reportar então ao relatório da AI, que em 09
de setembro denunciou suspeitas de tortura e outras violações de direitos
humanos cometidos pelas forças de segurança moçambicanas em Cabo Delgado, no
norte do país.
“O recente relatório da Amnistia
Internacional é extremamente chocante. Todas as alegações, incluindo as que
envolvem membros das Forças Armadas de Defesa e da polícia, devem ser
investigados de forma transparente e efetiva, com total respeito pelos direitos
legais tanto das vítimas como dos acusados”, sustentou.
A comissária europeia acrescentou que “a
UE advoga uma abordagem integrada e coordenada que promova a democracia, os
direitos humanos e o Estado de direito” no país, “sem esquecer a liberdade de
imprensa e a sociedade civil”.
De acordo com o relatório da AI, há
provas documentais — vídeos e fotos — que “mostram tentativas de decapitação,
tortura e outros maus-tratos de detidos, o desmembramento de alegados
combatentes da oposição, possíveis execuções extrajudiciais e o transporte de
um grande número de cadáveres até valas comuns”.
Já esta semana, a Amnistia Internacional
pediu às autoridades de Moçambique uma “investigação independente e imparcial”
à execução extrajudicial de uma mulher nua e indefesa em Mocímboa da Praia,
após a divulgação de um “vídeo horrendo” nas redes sociais.
O ministro da Defesa moçambicano negou
na quarta-feira que os alegados militares que aparecem a executar a tiro uma
mulher sejam das Forças Armadas de Moçambique e refutou acusações de abusos no
combate aos grupos armados no norte do país.
Entretanto, também na quarta-feira, o
embaixador da UE em Moçambique, António Sánchez-Benedito Gaspar, anunciou no
final de uma reunião em Maputo dedicada ao papel da Agência de Desenvolvimento
Integrado do Norte (ADIN) de Moçambique que a União Europeia quer definir até
final do ano uma estratégia de apoio reforçado a Cabo Delgado, o “diálogo
político” aberto a que a comissária se referiu no debate no hemiciclo de
Bruxelas.
“Existe já trabalho para termos uma
estratégia que há de estar finalizada antes do fim do ano”, referiu o
embaixador, apontando que há urgência em estabelecer “linhas de trabalho
principais” e que há já um “mapeamento” com Estados-membros da UE e parceiros
sobre a cooperação que cada qual pode promover na região.
A província de Cabo Delgado é há três
anos alvo de ataques por grupos armados, alguns reivindicados pelo grupo
‘jihadista’ Estado Islâmico, mas cuja origem permanece em debate, provocando
uma crise humana com mais de mil mortes e 250.000 deslocados internos.
Estima-se que 374.000 pessoas tenham
sido ainda afetadas em 2019 e no início de 2020 por intempéries e inundações,
com destaque para o ciclone Kenneth, em abril do último ano, que provocou 45
mortos e arrasou diversas povoações, deitando por terra inúmeras
infraestruturas públicas, como escolas e unidades de saúde.ANG/Angop
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