Timor Leste/Oposição contesta nova lei da radiodifusão por permitir rádios doutrinárias
Bissau, 09 Mar 23 (ANG) – O maior partido da oposição em Timor-Leste, CNRT, contestou quarta-feira elementos da nova lei da radiodifusão, aprovada na terça-feira, por permitir rádios doutrinárias, de partidos, e bloquear a compra de espaço noutros 'media' pelas forças políticas.
“Nós não concordamos que
um partido político possa criar ou estabelecer rádios ou televisões dos
partidos políticos, doutrinárias, porque não garantem a independência,
imparcialidade, neutralidade e objetividade exigida aos órgãos de comunicação
social”, disse à Lusa a deputada do Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT) Carmelita Moniz.
“A 'media' e a
comunicação social têm que garantir isenção dos poderes políticos e económicos
e neutralidade e objetividade”, vincou.
A nova lei, que vai
agora ser avaliada pelo Presidente timorense, que permitem a existência de
rádios e televisões “doutrinárias”, como a Rádio Televisão Maubere (RTM), um
órgão da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), maior
partido no parlamento e um dos três da coligação governamental.
O diploma, aprovado por
37 votos a favor e 14 abstenções (do CNRT), impõe ao mesmo tempo limites à
“liberdade de programação”, determinando que “os operadores radiofónicos e
televisivos estão proibidos de ceder, a qualquer título, espaços de propaganda
política, sem prejuízo do disposto na legislação específica sobre o Direito de
Antena”.
A questão do direito de
antena, por seu lado, está definida nos regulamentos das campanhas eleitorais,
que determinam que “as estações de rádio e de televisão públicas reservam aos
candidatos igual tempo de antena”, tendo que previamente informar a Comissão
Nacional de Eleições (CNE) do horário previsto para as emissões.
Em eleições anteriores,
e além do tempo de antena oficial, alguns partidos chegavam a comprar espaços
‘publicitários’ através dos quais garantiam a transmissão na íntegra de
comícios partidários.
Carmelita Moniz explicou
que o partido decidiu abster-se na votação, por considerar a importância de uma
lei de radiodifusão, mas por contestar elementos como o da existência de meios
doutrinários.
“Não concordamos que um
partido político possa ter rádio e televisão porque isso não garante os
princípios estipulados na Constituição. Nós também poderíamos ter aberto já uma
rádio e televisão nossas, mas não o fizemos por isso mesmo”, vincou.
Questionado sobre as
críticas, o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, defendeu o direito do
partido poder ter uma rádio e uma televisão, e considerou que a nova lei
procura garantir “mais igualdade de tratamento” para todas as forças políticas.
“Se os outros partidos
quiserem que façam o seu próprio órgão de informação. Naturalmente que comprar
publicidade se torna um pouco desigual entre partidos pequenos e grandes. Os
pequenos não podem fazer isso. A verdade é essa. Mas as leis permitem que
qualquer partido tenha o seu próprio órgão”, afirmou.
“A desigualdade havia
antes. Em que quem pode comprar compra, usa e abusa, como houve nas
presidenciais, em que a GMN [Grupo Média Nacional] e outros transmitir
diariamente sondagem de opinião para influenciar o público, e transmitiram
comícios em 2018 e 2017”, afirmou.
Alkatiri disse que a
nova lei procura “criar um certo equilíbrio e balanço na divulgação dos atos
entre os partidos políticos”.
“A RTM é um órgão do
partido. Por isso mesmo sendo órgão do partido. Cada um pode ponderar e ver até
onde consome essa informação. É diferente de uma televisão que se proclama
privada e independente, isto é diferente”, disse.
A lei em Timor-Leste
proíbe a publicidade que “tenha como objeto ideias de conteúdo sindical,
político ou religioso, salvo se de autoria, devidamente anunciada e
identificada pelas próprias entidades”.
Relatórios das missões
eleitorais de observação às últimas eleições em Timor-Leste referem-se a esta
questão, notando quer a compra de espaço informativo na GMNTV, por exemplo,
quer a cobertura “parcial” da RTM, que dedicou a quase totalidade da cobertura
à Fretilin.
A campanha para as
legislativas de 21 de maio começa a 19 de abril.
ANG/Lusa
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