Portugal/Amnistia
Internacional denuncia discriminação das mulheres afegãs pelos talibãs
Bissau, 14 Ago 23 (ANG) – A Amnistia Internacional (AI) acusou os talibãs de terem transformado a esperança de emancipação da mulher no Afeganistão num “vendaval de restrições draconianas” desde que regressaram ao poder, há dois anos.
“O
Afeganistão voltou a mergulhar num capítulo negro”, considerou a organização
num texto divulgado a propósito do segundo aniversário do novo regime afegão,
que se assinala na terça-feira.
Os
talibãs, que praticam uma interpretação estrita do Islão, reconquistaram Cabul
em 15 de Agosto de 2021, após uma ofensiva que levou ao colapso da administração
patrocinada por uma força internacional.
Fundado
no início da década de 1990, o movimento nacionalista sunita tinha governado o
Afeganistão entre 1996 e 2001, quando foi derrubado por uma coligação liderada
pelos Estados Unidos, após os atentados terroristas de 11 de Setembro desse
ano.
Seguiu-se
uma ocupação do país asiático por uma força internacional até agosto de 2021,
durante a qual foram revertidas as regras mais restritivas que os talibãs
tinham aplicado às mulheres, como a proibição do ensino.
“A
esperança de progresso e de emancipação que tinha começado a ganhar forma
transformou-se num vendaval de restrições draconianas que silenciam e subjugam
as mulheres e as raparigas”, denunciou a AI-Espanha.
No
texto, a AI enumera 10 actividades que foram sendo proibidas às mulheres desde
2021, a começar pela educação, que passou a ser uma “miragem inatingível”.
“Inicialmente,
foi imposta uma segregação rigorosa entre homens e mulheres, mas, no final de
2022, um decreto do Ministério da Educação afegão expulsou completamente as
mulheres dos espaços de aprendizagem”, denunciou.
O
emprego também sofreu “uma transformação radical”, com a proibição do trabalho
fora de casa a prejudicar “gravemente as economias familiares”, segundo a AI.
“Apenas
um número limitado de médicas e enfermeiras está autorizado a trabalhar em
certos hospitais de Cabul para tratar mulheres e raparigas”, disse a
organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
A AI
referiu também o código de vestuário, que “foi objecto de uma regulamentação
extrema”, segundo a qual “as mulheres devem estar cobertas da cabeça aos pés”.
“O
uso de saltos altos foi proibido, com base no facto de poderem produzir um som
de marcha que seria ouvido pelos homens. A escolha de calças largas também é
proibida, mesmo que estejam escondidas por baixo da ‘burqa’”, segundo a AI.
Desafiar
as regras de vestuário pode significar “açoites, espancamentos e abusos
verbais”.
As
afegãs estão proibidas de frequentar salões de beleza, de sair de casa sem um
‘mahram’ (um familiar próximo do sexo masculino), de praticar desporto, de usar
transportes públicos com homens e de escolher um marido.
Também
ninguém pode publicar imagens de mulheres em revistas e livros, o que, segundo
a AI, “diminui a visibilidade e o reconhecimento das mulheres na sociedade,
relegando-as para um papel secundário”.
A
liberdade de expressão foi igualmente proibida, o que “deu origem a um
movimento de resistência corajoso e pacífico, liderado por mulheres e raparigas
de todo o Afeganistão”.
“As
mulheres afegãs enfrentam um cenário sombrio sob o regime talibã”, considerou a
AI, apelando para que a comunidade internacional não esqueça o Afeganistão.
Peritos
da ONU alertaram em junho que a discriminação das mulheres no Afeganistão pode
ser considerada um crime contra a humanidade por ter por base um ‘apartheid’ de
género, criando uma segregação semelhante à da raça.
ANG/Inforpress/Lusa
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