Mali/Missão da ONU termina oficialmente após dez
anos
Bissau, 12 Dez 23
(ANG) – A missão da ONU no Mali
(Minusma) acabou oficialmente hoje, após dez anos de presença neste país
assolado pelo terrorismo e por uma crise profunda, por ter sido expulsa pela
junta militar no poder.
A Minusma baixou
hoje a bandeira das Nações Unidas da sua sede perto do aeroporto da capital do
Mali, Bamako, disse à agência de notícias France-Presse o seu porta-voz,
Fatoumata Kaba.
Os correspondentes
da agência puderam assistir ao início de uma cerimónia, que marca
simbolicamente o fim da missão, embora alguns dos seus elementos ainda estejam
no local, segundo o porta-voz.
O encerramento põe
fim a uma missão iniciada em 2013, perante a propagação da violência que
ameaçava a estabilidade de um Estado pobre e frágil.
Desde então o
terrorismo espalhou-se para o centro do país e para os países vizinhos do Mali,
na região do Sahel, o Burkina Faso e o Níger, causando milhares de mortes entre
civis e combatentes e forçando a deslocação de milhões de pessoas.
Com mais de 180
membros mortos em atos hostis perpetrados principalmente por grupos armados
afiliados à Al-Qaeda e à organização extremista Estado Islâmico, a Minusma é a
missão de paz da ONU mais duramente atingida nos últimos anos. Esta força era
composta de cerca de 15.000 militares e polícias de vários países.
Apesar das perdas
humanas e de um compromisso financeiro considerável, a Minusma foi cronicamente
criticada pela sua impotência face às ações terroristas por parte de uma fação
da opinião pública e dos seus líderes.
A sua presença
tornou-se quase insustentável, mas também indesejada pelos militares que
assumiram a governação do país em 2020, após um golpe de Estado. O Burkina Faso
e o Níger, por sua vez, também assistiram à subida ao poder de regimes
militares nos últimos anos.
As relações entre a
Minusma e a junta continuaram a deteriorar-se. A ONU denunciou abertamente as
proibições de voos e outras barreiras colocadas pelas autoridades ao
cumprimento das ações da missão. As autoridades protestaram contra a
interferência, segundo elas, da Minusma na defesa dos direitos humanos, o que
fazia parte do seu mandato.
O chefe da
diplomacia maliana, Abdoulaye Diop, acabou por pedir ao Conselho de Segurança
da ONU a saída “sem demora” da Minusma em junho último, classificou a missão da
ONU como um “fracasso” e acrescentou que aquela não era a solução, mas “parte
do problema”.
A Minusma não pôde
permanecer contra a vontade das autoridades malianas e Conselho de Segurança
cancelou o mandato da Minusma em 30 de Junho fixando o objetivo de abandonar o
país até 31 de Dezembro.
Desde então, a
Minusma desligou-se da maior parte das suas 13 posições, em condições difíceis,
no norte, sob a pressão de uma escalada militar entre todos os intervenientes
armados presentes no terreno.
Além de Bamako, a
Minusma continua a fechar os locais de Gao e Timbuktu (norte), onde, depois de
01 de Janeiro se realizará o que a ONU chama de “liquidação” da missão. Isto
implicará, por exemplo, a entrega dos últimos equipamentos às autoridades ou a
rescisão de contratos existentes.
Até sexta-feira,
mais de 10.500 funcionários militares ou civis da Minusma deixaram o Mali, de
um total de cerca de 13.800 no início da retirada, indicou a Minusma no X
(antigo Twitter). ANG/Inforpress/Lusa
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