Suíça/Queixa por “crimes contra a humanidade” apresentada contra Presidente do Irão
Bissau, 12 Dez23 (ANG) – Uma queixa segunda-feira apresentada na Suíça insta as autoridades a deter o Presidente iraniano numa visita a Genebra prevista para esta semana e a acusá-lo de crimes contra a humanidade pelas execuções em massa de opositores em 1988.
Ebrahim Raisi ia participar no Fórum Mundial
das Nações Unidas sobre os Refugiados, que se realiza entre 13 e 15 de dezembro
em Genebra, mas a ONU informou hoje à noite que a delegação iraniana será
chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian.
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR), agência especializada da ONU indicou que, sendo “o Irão um
Estado membro da organização, está, por conseguinte, convidado a participar no
Fórum Mundial sobre os Refugiados”.
“O Irão é também um dos maiores países de
acolhimento de refugiados há mais de 40 anos”, declarou um porta-voz numa
mensagem de correio eletrônico citada pela agência de notícias francesa AFP,
acrescentando que “a delegação iraniana será liderada pelo Ministro dos
Negócios Estrangeiros”.
A queixa, datada de hoje, e apresentada por
três antigos prisioneiros iranianos, apela ao procurador-geral da Confederação
Helvética, Andreas Muller, para proceder à detenção do Presidente do Irão e ao
seu indiciamento “por participação em atos de genocídio, tortura, execuções
extrajudiciais e outros crimes contra a humanidade”.
Os grupos de defesa dos direitos humanos há
muito que fazem campanha para que seja feita justiça quanto aos milhares de
execuções sumárias levadas a cabo nas prisões iranianas no verão de 1988, logo
após a guerra com o Iraque.
As vítimas foram principalmente apoiantes do Movimento dos ‘Mujahidines’ do
Povo (MEK), proibido no Irão e que tinha apoiado Bagdad durante o conflito.
Os queixosos afirmam que podem identificar
pessoalmente o atual Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, como tendo feito parte
da “comissão de morte” que ordenou as execuções.
O principal queixoso, Reza Shemirani, foi
detido em 1981 e é um dos cerca de 150 prisioneiros, dos 5.000 encarcerados na
sua prisão, que sobreviveram à purga, de acordo com a queixa. Esteve preso até
1991 e foi submetido a sessões diárias de tortura.
Opositores iranianos no exílio já
apresentaram queixas semelhantes no Reino Unido e em Nova Iorque.
Paralelamente a esta ação judicial, foi lançada uma campanha internacional para
protestar contra a possível presença do Presidente iraniano no Fórum da ONU
sobre os Refugiados e para exigir que responda perante a Justiça.
“A sua presença no fórum das Nações Unidas
está em contradição com os valores fundamentais defendidos pela organização”,
denuncia uma petição que recolheu mais de 200 assinaturas, entre as quais as de
prémios Nobel, juízes, antigos ministros, deputados, académicos e especialistas
em direitos humanos da ONU.
“Acreditamos firmemente que as Nações Unidas,
enquanto bastião dos direitos humanos e da justiça, não devem comprometer a sua
reputação convidando uma pessoa acusada de graves violações dos direitos
humanos”, lê-se na petição, que exorta a ONU a “retirar rapidamente o seu
convite ao senhor Raisi”.
Os signatários afirmam ainda que apoiam “o
apelo para que Ebrahim Raisi seja investigado e processado pelo seu
envolvimento em crimes passados e presentes, ao abrigo do direito
internacional, incluindo pelos Estados que exercem uma jurisdição universal”.
ANG/Inforpress/Lusa
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