terça-feira, 7 de abril de 2020


Secretário de Estado da Ordem Pública 

Bissau,07 Abr.20(ANG) - O Secretário de Estado da Ordem Pública, Mário Fambé, disse que a colocação de polícias nas ruas visa "fazer cumprir o estado de emergência em vigor" no país e pediu desculpas pela atuação de alguns agentes.

"Quem trabalha erra e, por isso, pedimos desculpas", disse Mário Fambé durante uma conferência de imprensa realizada  segunda-feira, em Bissau.

O secretário de Estado garantiu que os agentes que se envolveram em atos de violência foram identificados e serão responsabilizados, assegurando ainda que já se reuniu com todas as brigadas das forças de ordem pública para as sensibilizar sobre a forma de atuar.

Entretanto, Fambé exortou a população a ficar em casa depois da hora indicada no decreto governamental que regulamenta o estado de emergência nacional.

As autoridades  acusam os populares de não estarem a respeitar o estado de emergência em vigor, que obriga as pessoas a ficarem em casa e a manter o distanciamento social. No domingo, a polícia usou da força para reprimir quem andava nas ruas.

"Eu vi com os meus olhos polícias a impedir qualquer um de circular pelas ruas com brutalidade. Estava a sair do hospital Simão Mendes para a minha casa, quando disseram que não podia sair do hospital. Disse-lhe que fui fazer o que as autoridades não fazem, que é levar a comida às pessoas internadas, cujas famílias não têm como chegar ao hospital devido às restrições de circulação e de liberdades", disse o futebolista guineense Saná Camará.

Para conter a propagação do novo coronavírus, as autoridades guineenses determinaram várias medidas, ao abrigo do estado de emergência, nomeadamente o confinamento social e a limitação de circulação de pessoas e viaturas entre as 07:00h e as 11:00h locais.

Durante o fim de semana, várias pessoas relataram nas redes sociais terem sido agredidas pela polícia, que as obrigava até a entrarem para as suas casas, quando se encontravam na varanda.

O líder do Movimento Guineense para o Desenvolvimento (MGD), Umaro Djau, criticou a falta de informação e sensibilização por parte das autoridades competentes, que não estão a dar o rosto no combate à doença.

"O povo guineense precisa de ver as suas autoridades (executivas, sanitárias e políticas) todos os dias, comunicando-lhe claramente sobre o seu empenho, a sua visão e estratégia no combate e prevenção contra o coronavírus. E, tal como nos EUA, o rosto desta crise tem que ser uma figura de autoridade! Tem que ser um conjunto de pessoas que possa informar coerentemente o povo, demonstrar-lhe que todos os esforços estão a ser feitos e, finalmente, assegurar-lhe que 'tudo vai dar certo' mesmo face às incertezas. Pelo menos, este seria um serviço mínimo ao país", afirmou o jornalista a viver nos Estados Unidos de América.

Para o ativista Sumaila Jaló, as autoridades deveriam repensar o estado de emergência, tendo em conta a realidade de agrupamento familiar na Guiné-Bissau.

"Poucas famílias têm hábito de cada um comer num prato pessoal. Não é porque não querem, mas porque as refeições não dão para cada um se servir à parte", lembra.

"90% das habitações têm casas de banho partilhadas por moradores de uma casa ou até de uma comunidade. Ter acesso à água potável [canalizada] é dos maiores privilégios que as famílias podem ter, sendo que, em algumas ruas ou comunidades, o próprio poço de água é partilhado. Nem todos os bairros da própria capital Bissau têm mercados locais, e poucas famílias sabem como funciona um frigorífico, onde podiam conservar alimentos para muitos dias".ANG/DW


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