Brexit/PM britânico acusa UE de querer criar fronteira entre Irlanda do Norte e Reino Unido
Bissau, 15 Set 20 (ANG) - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson,
acusou segunda-feira a União Europeia (UE) de ameaçar impor uma “fronteira
tarifária" no Reino Unido, defendendo uma proposta de lei que reserva a
possibilidade de o Governo reverter certas disposições do acordo do ‘Brexit',
noticiou a Lusa.
Segundo Johnson, a UE ameaçou recusar reconhecer os produtos agrícolas e alimentares do Reino Unido para venda no mercado interno, o que "criaria uma proibição instantânea e automática da transferência dos produtos de origem animal da Grã-Bretanha para a Irlanda do Norte”.
“Eles ameaçam criar uma fronteira
tarifária no nosso próprio país”, entre a Irlanda do Norte e a Grã-Bretanha,
sustentou o chefe do Governo conservador perante os deputados, explicando que o
texto que vai hoje a votação é uma “rede de segurança”, uma "apólice de
seguro" que ele espera que o país não precise de usar.
Os deputados britânicos deveriam votar
segunda-feira a proposta de lei "sobre o mercado interno”, que dá a
Londres o poder de tomar decisões comerciais unilateralmente na sua província
da Irlanda do Norte.
Como o próprio governo britânico
admitiu, a legislação viola o direito internacional, o que gerou protestos
dentro da própria maioria conservadora.
A iniciativa foi criticada por políticos
de todos os quadrantes , em particular por quatro ex-primeiros-ministros,
incluindo os conservadores John Major, Theresa May e David Cameron.
O antecessor de Boris Johnson confessou
ter “dúvidas” sobre a intenção do Governo, acrescentando: "Aprovar uma lei
no Parlamento e depois romper uma obrigação de um tratado internacional é a
última coisa que deve ser considerada".
Segunda-feira, o antigo procurador geral
Geoffrey Cox, que serviu sob Johnson e que participou nas negociações do Acordo
há menos de um ano, juntou-se ao crescente número de deputados que prometeram
votar contra o Governo.
"Eu simplesmente não posso aprovar
ou endossar uma situação em que voltamos atrás com a nossa palavra, dada
solenemente. A violação da lei resulta em danos permanentes e a muito longo
prazo na reputação deste país”, justificou, em entrevista à Times Radio.
O deputado conservador Robert Neill,
autor de uma proposta de alteração ao texto que limita os poderes do Governo
nesta matéria, disse que aprovar a legislação seria "um ato potencialmente
prejudicial para nosso país” e que “prejudicaria a nossa reputação e tornaria
mais difícil concluir acordos comerciais futuros."
Se for aprovado na Câmara dos Comuns, o
polémico projeto de lei terá de ser votado na especialidade e depois ser
debatido na Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico, onde
também existe uma forte oposição ao plano dentro dos próprios
conservadores.
O líder da oposição, o trabalhista Keir
Starmer, também se manifestou contra o texto, que considera “mau" e
"contraproducente", mas hoje não pode liderar o debate na Câmara dos
Comuns por estar em auto-isolamento devido a uma possível infeção de
covid-19 dentro da família.
Bruxelas contestou a proposta de lei e
ameaçou com os tribunais a não ser que o Londres recue.
Apesar da crise desencadeada por esta
proposta de lei, as negociações vão continuar esta semana entre Reino Unido e
UE para tentar chegar a um acordo de comércio livre antes de meados de
outubro para poder ser ratificado a tempo de entrar em vigor em 2021.
A ronda anterior terminou sem grandes avanços
nos principais impasses, nomeadamente as condições equitativas para evitar
situações de concorrência desleal, incluindo com o uso de apoios estatais a
empresas, e o acesso dos pescadores europeus às águas britânicas. ANG/Angop
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