quarta-feira, 1 de abril de 2020



Bissau,01 Abr 20 (ANG) - O manuseamento de dinheiro pelos guineenses é uma "preocupação maior" para a diretora executiva da Associação de Bancos do país, Ausenda Cardoso, que o considera como potencial fator de propagação do novo coronavírus.

Vista da sede do BCEAO em Bissau
"Sem dúvida, que o manuseio de dinheiro é um fator de risco", observou Ausenda Cardoso, diretora executiva da Associação Profissional de Bancos e Estabelecimentos Financeiros da Guiné-Bissau (APBEF).

Para minimizar o risco, o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) ordenou aos cinco bancos comerciais da Guiné-Bissau para aumentarem o aprovisionamento das suas caixas automáticas de levantamento de dinheiro, para evitar que os clientes recorram aos balcões, disse Ausenda Cardoso.

"Foram feitas negociações com as empresas de emissão de moeda eletrónica no sentido de reduzir os custos das transações e encorajar as populações a uma maior utilização dos meios de pagamento digitais. Aqui, na Guiné-Bissau temos o Orange Money e o Mobile Money", acrescentou a responsável.

Rómulo Pires, diretor do Banco da África Ocidental (BAO), líder do mercado bancário guineense, disse à Lusa que a medida sugerida pelo BCEAO "até é aceitável", mas lembrou que, no caso do seu banco, dos cerca de 50 mil clientes, apenas cerca de 12 mil têm cartão multibanco.

A Guiné-Bissau tem uma população de cerca de 1,8 milhões de pessoas.

Com a entrada em vigor do estado de emergência decretado pelas autoridades, Rómulo Pires disse que o BAO tem tido maior procura dos clientes, com muitos a tentarem levantar o seu dinheiro, o que faz com que as máquinas também se ressintam e algumas vezes ficam sem liquidez, notou.

Segundo a Lusa, outra preocupação que Rómulo Pires relatou  prende-se com o aumento do número de pessoas nos balcões, nomeadamente nos últimos dias, com o pagamento do salário dos funcionários públicos, o que, frisa, levou o BAO a impor a que só entrem as pessoas que estão a ser atendidas, fazendo aumentar filas de espera.

Rómulo Pires admite que as filas fazem aumentar o possível contacto entre as pessoas.

O responsável também considera que tem havido problemas com o acesso dos colaboradores aos bancos, em virtude das limitações de circulação de pessoas e viaturas.

O diretor do BAO disse que teve dificuldades para chegar hoje ao banco, no centro de Bissau, vindo da sua residência, nos arredores da capital guineense, ao ter sido mandado parar, pela polícia, por cinco vezes na mesma estrada.

Rómulo Pires defendeu que se devia analisar melhor que medidas impor à população, dando o exemplo de que o confinamento social faz com que as pessoas fiquem em casa, mas nos quintais, porque, disse, não podem ficar dentro das casas "dado o calor que se faz sentir" na Guiné-Bissau.

"Não é por acaso que o médico dá medicamento diferente para criança e outro para adulto. É medido conforme o peso do paciente", declarou Pires, para quem a Guiné-Bissau devia adotar as suas medidas de acordo com a realidade do país "e não fazer o que outros países estão a fazer", notou.

Até ao momento, a Guiné-Bissau tem oito casos confirmados da covid-19.

O número de mortes em África subiu para 173 nas últimas horas, com os casos confirmados a ultrapassarem os 5.000 em 47 países, de acordo com as mais recentes estatísticas sobre a doença no continente.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 791 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 38 mil.

Dos casos de infeção, pelo menos 163 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. ANG/Lusa 

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