Covid-19/OMS critica racismo de
cientistas que querem África como terreno de testes
Bissau,08
Abr.20(ANG) - O director-geral da
Organização Mundial da Saúde (OMS) condenou os "comentários racistas"
de pesquisadores que se referiram à África como "um campo de testes"
para uma potencial vacina contra a Covid-19, denunciando "o legado de uma
mentalidade colonial".
"Esses tipos de comentários racistas não contribuem
em nada para avançar. Vão contra o espírito de solidariedade. A África não pode
e não será um campo de testes para nenhuma vacina", disse na segunda-feira
Tedros Adhanom Ghebreyesus, ex-chefe de diplomacia Etíope, durante uma
conferência de imprensa virtual.
"O legado da mentalidade colonial deve
acabar", acrescentou.
Embora não tenha especificado a quais cientistas se
referia, em França e nalguns países de África surgiu, na semana passada, uma
polémica após um diálogo entre o director de pesquisa do Instituto Francês de
Pesquisa Médica (INSERM), Camille Locht, e o chefe de serviço de medicina
intensiva do hospital Cochin em Paris,Jean-Paul Mira, no canal LCI.
Na sequência desta conversa, Locht foi questionado
sobre os estudos realizados para encontrar uma vacina contra a Covid-19.
Jean-Paul Mira perguntou-lhe: "Se posso ser
provocativo, não deveríamos fazer este estudo em África, onde não há máscaras
ou tratamento ou reanimação, como foi feito em alguns estudos da sida? (...) O
que acha?". O cientista o respondeu: "Você tem razão. (...) Estamos a
pensar, paralelamente, sobre um estudo em África com o mesmo enfoque, o que não
significa que não possamos também pensar num estudo na Europa e na Austrália”.
As declarações causaram tanta polémica que ambos pediram
desculpas e foram condenados por associações e pelo ministério francês dos
Negócios Estrangeiros.
"É vergonhoso e horrível ouvir cientistas fazerem
este tipo de declaração em pleno século XXI", enfatizou o chefe da OMS.
Personalidades francesas e africanas, como o
futebolista ivoiriense Didier Drogba e o camaronês Samuel Etóo, reagiram, assim
como a associação SOS Racismo, que pediu a intervenção do Conselho Superior do
Audiovisual de França contra o programa.ANG/Angop
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