Mali/ Analista descreve como “complexa” situação do país com a junta militar a "falhar completamente" no combate ao terrorismo
Bissau, 17 Ago
22 (ANG) - As forças francesas da operação Barkhane abandonaram esta semana o
Mali após quase 10 anos de presença gaulesa e Rui Neumann, jornalista e membro do
Observatório Político em Lisboa e do Institut de Relations Internationales et
Stratégiques em Paris, antecipa uma situação "complexa" para este
país actualmente liderado por uma junta militar "que está a falhar na
gestão do país".
"Para o Mali vai ser uma situação de grande
complexidade apesar de a junta militar, chefiada pelo coronel Assimi
Goïta, estar a seguir uma linha de conduta de certa forma devido à nova
parceria com a Rússia, mas também a seguir a vontade popular. O Mali nestes
dois últimos golpes de Estado desenvolveu um fenómeno de populismo e uma
radicalização da opinião pública que também empurraram a França para fora do
território maliano", disse Rui Neumann.
Após quase 10 anos de intervenção no
terreno, os terroristas que em 2013 ameaçavam Bamako espalharam-se a outros
países, fixando-se no Norte do país e também no Niger, no Burkina Faso, no
Benim, no Gana, Togo ou Costa do Marfim. Esta nova geografia vai
levar a uma adaptação da presença francesa no Sahel, que apesar de já não estar
no Mali, vai continuar a combater os jihadistas.
"A operação Barkhane vai ter de rever
completamente a sua forma de operacionalidade porque estava concentrada, o
epicentro deixa de ter sentido já que estava no Mali. A França certamente que
já redefiniu a nova estratrégia, Emmanuel Macron já tinha dado sinais desta
nova doutrina, ou seja entrar uma segunda cintura de combates com estes
insurgentes", explicou o jornalista.
Assim, mais do que soldados na região, a
França vai possilvemente optar por mais ataques aéreos e operações de
informações, movendo os seus militares para o Niger, Chade e Burkina Faso.
Ao mesmo tempo, a situação no Mali é
instável com Rui Neumann a duvidar da capacidade das tropas malianas de
enfrentarem a ameaça terrorista sozinhas já que têm pela frente jihadistas
"extremamente experientes". Quanto à situação social, Rui
Neumann diz que a situação de aparente apoio popular à junta pode mudar,
especialmente se os malianos não tiverem melhorias a nível económico e se
sentirem seguros, podendo originar assim um novo golpe de Estado.
"Tanto o Presidente como o Governo maliano
estão a falhar completamente nesse combate e, por vezes há um efeito
boomerang, ou seja, a população apoia de uma forma quase radical a coragem da
junta militar de expulsar a França, mas quando a mesma junta não responde às
situações concretas quer sejam económicas ou de segurança, isso pode levar ao
regresso do boomerang e resultar num golpe de Estado", indicou
Neumann. ANG/RFI
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