Ucrânia/”Inverno poderá ser “questão de vida ou morte” para população”, – ONU
Bissau, 26 Ago 22(ANG) – O próximo inverno pode ser uma “questão de vida ou morte” para muitos ucranianos atingidos pela guerra, e é visto pelas organizações humanitárias no país como “prioridade máxima”, disse à Lusa fonte da ONU.
“O inverno pode significar uma questão – temos que ser muito realistas – de vida ou morte para muitas pessoas aqui na Ucrânia. O inverno aqui é duro, podendo chegar a temperaturas de 20 graus negativos. Podemos imaginar o que é viver numa casa que está danificada, sem portas ou sem janelas, ou numa área onde as pessoas perderam acesso a gás para poder aquecer as casas”, afirmou Saviano Abreu, porta-voz do gabinete humanitário das Nações Unidas (ONU) na Ucrânia.
Em
entrevista à Lusa, Abreu explicou que as organizações humanitárias no terreno
estão já a trabalhar para conseguir chegar às pessoas que poderão ser mais
afetadas pelas baixas temperaturas, entregando consumíveis, realizando
eventuais reparações nas casas ou melhorando os acessos aos centros
urbanos e a gás.
“Temos
que temer pela vida dessas pessoas. É uma das prioridades máximas que temos
agora. Estamos a trabalhar para que as pessoas possam estar de uma maneira
digna e aquecida durante este inverno, que pode ser mortal se não conseguirmos
oferecer essa ajuda necessária”, reforçou o porta-voz.
A
acompanhar de perto a situação dos ucranianos desde o início da guerra, há seis
meses, Saviano Abreu admite que já presenciou “níveis de sofrimento humano
entristecedores e inimagináveis” para muita gente. Contudo, não vê melhorias no
horizonte, frisando que o direito internacional humanitário continua a não ser
respeitado.
Saviano
deu o exemplo de Zaporijia, cidade ucraniana onde está localizada a maior
central nuclear da Europa e cujo bombardeamento constante está a
levar milhares de pessoas a tentar fugir da região, mas sem sucesso.
“Há
muita gente agora mesmo, neste momento, que está em filas enormes, tentando
fugir de determinadas áreas, por exemplo, na região de Zaporijia. Sabemos que
mais de 4.000 pessoas estão lá, a tentar cruzar para o lado controlado pelo
Governo ucraniano e não estão a conseguir”, denunciou.
“É um
direito de cada pessoa, até pela sua segurança, querer sair das áreas que estão
a sofrer bombardeamentos diários. (…) É urgente que a comunidade
internacional coloque ainda mais pressão nos dois Governos, mas principalmente
no Governo da Federação Russa, para respeitar os direitos da população civil
que já sofreu de formas inimagináveis o suficiente”, apelou.
Frisando
que é uma obrigação de ambas as partes respeitar os direitos da população
civil, o funcionário da ONU lamentou que esses princípios não venham sendo
respeitados desde o início da invasão, sublinhando que, de forma “inaceitável”,
escolas e hospitais continuam a ser bombardeados.
Seis
meses após o início da guerra, o balanço é de destruição massiva de
infraestruturas civis, de mortes, de pessoas a fugir de casa e cerca de 18
milhões de pessoas a precisar de ajuda humanitária, incluindo água e comida,
abrigos e proteção e serviços médicos, segundo Saviano Abreu.
Questionado
acerca das principais dificuldades que as organizações humanitárias têm neste
momento, o porta-voz da ONU não teve dúvidas em apontar o facto de não
conseguir chegar a todas as partes do país onde as pessoas necessitam de ajuda,
como Mariupol, Donetsk e outras áreas hoje controladas pela Rússia ou por
forças aliadas.
“Nós
não estamos a ter possibilidade de chegar às pessoas, nem sequer para fazer
avaliações das necessidades humanitárias. Então, é um apelo que estamos a
fazer, de podermos cruzar essas frentes de batalha e chegar às áreas que ainda
não pudemos [aceder] nesses últimos seis meses”, afirmou.
Apesar
de destacar a generosidade que a comunidade internacional tem demonstrado desde
o início da invasão russa, Abreu recordou que a guerra continua e,
consequentemente, as necessidades não param, apelando à continuação das
contribuições financeiras.
“Hoje,
o apelo que fazemos é por 4,3 mil milhões de dólares (aproximadamente o mesmo
valor em euros) para conseguirmos atender as necessidades humanitárias desses
18 milhões de pessoas (…) mas é maravilhoso ver que pelo menos 60% desse valor
já está coberto”, disse o funcionário da ONU.
A
ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a
fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados
internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais
recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na
Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A
invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a
necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da
Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem
respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de
sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
ANG/Inforpress/Lusa
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