Covid-19/ Credores aceitam alívio da dívida só em países com
programa do FMI
Bissau, 18 Nov 20 (ANG)
– O Instituto Financeiro Internacional (IFI), que representa os credores
privados, defendeu terça-feira que a sua participação num processo de alívio da
dívida está dependente de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter um programa
de apoio aos países devedores.
“Desenvolver um
entendimento comum entre os credores oficiais membros do Clube de Paris e os
outros será um passo positivo, mas os credores privados estão preocupados com a
comparabilidade dos princípios de tratamento que serão aplicados, por isso com
isto em mente enfatizamos a importância de uma abordagem caso a caso,
desencadeada pelo pedido do país para a implementação de um programa total do
FMI”, lê-se numa carta enviada à presidência do G20.
O grupo das 20
principais economias mundiais reuniu na semana passada os ministros das
Finanças e governadores dos bancos centrais e no final desta semana juntará os
líderes destes países.
Melhorar a arquitectura
da dívida soberana é uma responsabilidade partilhada, lê-se na carta a que a
Lusa teve acesso, na qual os credores notam que “a rápida subida da dívida
governamental, de 35% para 55% do PIB dos países elegíveis para a Iniciativa de
Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) na última década deixou muitos países
vulneráveis num risco maior de terem uma dívida insustentável e de terem de a
reestruturar”.
A missiva dos credores
privados surge na mesma altura em que os ministros das Finanças e governadores
dos bancos centrais se reuniram, na semana passada, e defenderam um
aprofundamento dos mecanismos para lidarem com este assunto especialmente
problemático para os países africanos, em geral, e para os países lusófonos
Angola, Moçambique e Cabo Verde, em particular.
“É claro que a pandemia
aumentou o risco de dívida problemática, e nesses casos os credores privados
estão prontos para se envolverem de boa fé no tratamento da dívida que restaure
a sustentabilidade a longo prazo, no contexto de um programa de políticas
apoiada pelo FMI, com tratamento comparável para todos os credores”, defendem.
Na sexta-feira, o G20
divulgou um conjunto de princípios para um tratamento aprofundado da questão da
dívida pública dos países mais vulneráveis, nos quais o FMI terá um papel mais
preponderante e a China deverá estar envolvida.
O acordo vai para além
da DSSI, e pretende lidar com os países caso a caso, como defendem os credores,
e é um reconhecimento de que as dificuldades provocadas pela pandemia de
covid-19 vão manter-se durante algum tempo e que mais países podem ter
dificuldades em servir a dívida no próximo ano.
“Pela primeira vez,
todos os principais credores bilaterais, membros e não membros do Clube de
Paris, vão coordenar o tratamento da dívida”, assinalou o primeiro-ministro
francês, numa referência implícita à China, um país crucial devido ao volume de
dívida que detém.
“Vai trazer mais
transparência ao processo de alívio da dívida e envolver os credores privados,
que precisam de garantir pelo menos termos comparáveis”, disse ainda Bruno Le
Maire.
As novas regras
acordadas pelos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais do
G20 fazem depender a necessidade de uma reestruturação de uma análise sobre a
sustentabilidade da dívida a ser feita pelo FMI e pelo Banco Mundial, e os
devedores terão de procurar termos comparáveis entre os credores privados e os
oficiais bilaterais.
“O diálogo com o sector
privado é essencial para a aplicação de qualquer proposta de reforma da
arquitectura internacional da dívida soberana”, concluem os representantes dos
credores privados. ANG/Inforpress/Lusa
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