Bissau, 05 jun 20 (ANG) - Um médico do Hospital
Nacional Simão Mendes, principal estabelecimento sanitário da Guiné-Bissau,
onde estão internados doentes infetados com covid-19, disse quinta-feira à Lusa
que todos os dias os profissionais da saúde estão a ser contaminados com a
doença.
Almame Sissé, médico dos cuidados intensivos, mas que atualmente trabalha nos
serviços da urgência, precisou que vários técnicos do Simão Mendes deixaram de
comparecer no hospital por estarem infetados com a covid-19.
"Hoje,
quando um técnico quer fazer qualquer procedimento num doente, tem medo de
tocar no doente. Todos os dias há técnicos a contaminarem-se", disse
Sissé.
Logo
nos primeiros momentos em que as autoridades anunciaram que a covid-19 tinha
chegado à Guiné-Bissau, em finais de março, alguns médicos e enfermeiros do
Simão Mendes, por desconhecimento, ficaram infetados quando deram assistência a
um paciente, revelou o médico.
Almame
Sissé disse que mais de 30 técnicos foram isolados em dois hotéis de Bissau,
depois de recuperados alguns ficaram em casa e outros, como o próprio, voltaram
ao serviço.
O
médico lamenta que volvidos mais de dois meses desde que foram diagnosticados
os primeiros casos da covid-19 na Guiné-Bissau, ainda não haja "equipamentos
indispensáveis" para os profissionais do Simão Mendes.
"A
nossa situação é triste. Não podemos estar a tapar o céu com as mãos. Não há um
mínimo de condições para exercer no hospital. Vê-se muito pó no chão do
hospital e sabe-se que o vírus da covid-19 pode viver no chão", sublinhou
Almame Sissé.
O
médico notou que foram disponibilizadas máscaras aos técnicos (médicos e
enfermeiros) que tratam diretamente com casos da covid-19, mas também enfatizou
que alguns profissionais chegam a usar a mesma máscara durante todo o dia,
"porque não há outra", disse.
Almame
Sissé afirmou ser urgente disponibilizar "pelo menos" mais máscaras,
batas, avental, óculos e viseiras sob pena, disse, de alguns profissionais
deixaram de comparecer nos serviços por receio de contaminação.
"Porque
há doentes assintomáticos que dão entrada noutros serviços, por exemplo no
banco das urgências. A covid é uma doença que engana", defende Sissé que
antevê "um desastre" no Simão Mendes, onde, refere, todos os técnicos
acabam por ter contacto com os doentes da covid.
A
Guiné-Bissau registou desde março mais de 1.300 infeções por covid-19, que já
provocou oito vítimas mortais no país.
Em
África, há 4.606 mortos confirmados em mais de 162 mil infetados em 54 países,
segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível
global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19
já provocou mais de 385 mil mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em
196 países e territórios.
Mais de
2,8 milhões de doentes foram considerados curados.ANG/Lusa
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