Portugal/Bispos e líderes africanos
repudiam bênção de casais homossexuais
Bissau,12 Fev 24 (ANG) –
A bênção proposta pelo papa Francisco aos casais homossexuais mereceu o repúdio
de bispos católicos e líderes africanos, com a maioria dos países lusófonos a
reagir também negativamente.
Foi o caso dos bispos
católicos moçambicanos, angolanos e de São Tomé e Príncipe. Se em Maputo a
Conferência Episcopal de Moçambique anunciou ter decidido “não se dê bênção” às
“uniões irregulares e uniões do mesmo sexo”, em Luanda os bispos de Angola e
São Tomé manifestaram mesmo “perplexidade” com as bênçãos a “casais irregulares”,
determinando que não sejam realizadas nestes países porque “criariam um enorme
escândalo e confusão entre os fiéis”.
Em Cabo Verde, enquanto
se aguarda por uma nota conjunta das duas dioceses do arquipélago, o bispo Ildo
Fortes adiantou que ambas acompanham a posição do Papa Francisco, baseados no
princípio da misericórdia. E procurou explicar, deixando ao mesmo tempo claro
que não se trata de uma aprovação: “Até para sair do caminho errado onde possam
estar, até para quem está no pecado, é preciso uma bênção, uma luz”, afirmou,
lançando uma pergunta: “Se nós abençoamos os campos, os animais, porque é que
não havemos de abençoar as pessoas?”.
A posição assumida pelo
papa em 18 de dezembro último no "Fiducia Supplicans", o texto
publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé, que propõe a bênção da Igreja
aos casais considerados "irregulares", incluindo os casais do mesmo
sexo, mereceu dos bispos africanos um distanciamento expresso formal,
autorizado por Francisco, em que explicaram que a “doutrina da Igreja sobre o
casamento cristão e a homossexualidade” se mantém inalterada, e que não
consideravam “apropriada” a bênção proposta por Roma.
"Dentro da família
da Igreja de Deus em África, a declaração causou uma onda de choque, semeou
equívocos e inquietação nas mentes de muitos fiéis leigos, pessoas consagradas
e até mesmo pastores, e suscitou fortes reações", fez saber o Simpósio das
Conferências Episcopais Nacionais Africanas em janeiro.
Tais bênçãos - segundo o
mesmo texto, assinado pelo cardeal congolês Fridolin Ambongo, arcebispo de
Kinshasa, em nome do simpósio - não podem ser realizadas porque "no
contexto [africano], isso causaria confusão e estaria em contradição direta com
o ‘ethos’ cultural das comunidades africanas".
Segundo Ambongo, a
declaração do simpósio constituiu "resumo consolidado" das posições
adotadas por cada uma das conferências episcopais africanas, e recebeu o
"acordo" do papa, assim como do responsável pelo gabinete de doutrina
do Vaticano, o cardeal Victor Manuel Fernández.
Com efeito, duas semanas
depois do simpósio, o papa Francisco reconheceu a excecionalidade africana,
alegada pelos seus prelados, admitindo em entrevista com o diário italiano La
Stampa que África é “especial” no que diz respeito às bênçãos extra litúrgicas
propostas para casais do mesmo sexo.
"A homossexualidade
é algo 'feio' do ponto de vista cultural" para os africanos, disse o sumo
pontífice, que admitiu uma resistência particular em África à bênção de casais
do mesmo sexo, por questões culturais, mas disse confiar que, “pouco a pouco”,
todos se apercebam da importância da inclusão e não resulte num cisma.
O exemplo mais vivo da
fealdade referida por Francisco veio do Burundi, cujo Presidente, Evariste
Ndayishimiye, sugeriu a erradicação dessa “maldição” por “apedrejamento” dos
seus praticantes.
"Se querem atrair
uma maldição para o país, aceitem a homossexualidade", disse Ndayishimiye
aos jornalistas duas semanas depois da publicação do "Fiducia
Supplicans".
"Penso mesmo que
estas pessoas, se as encontrarmos no Burundi, é melhor levá-las a um estádio e
apedrejá-las. E isso não pode ser um pecado", disse Ndayishimiye,
descrevendo a homossexualidade como importada do Ocidente.
Esta semana, ainda que
sem qualquer referência geográfica, cultural ou pessoal, o papa insistiu no
tema, depois de várias tentativas para distinguir as bençãos sacramentais da
benção extra-litúrgica.
"Ninguém se
escandaliza se eu der a minha bênção a um homem de negócios que talvez explore
as pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas escandalizam-se se eu as der a
um homossexual", disse Francisco à revista católica italiana Credere.
"Isto é hipocrisia", acrescentou.
ANG/Inforpress/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário