Caracas/Fundo da ONU para a População diz que venezuelanas são forçadas a trocar sexo por comida
Bissau, 25 Nov 21(ANG) – A crise política, económica e social na Venezuela está a forçar algumas mulheres “a usar o sexo” como mecanismo de sobrevivência, alertou terça-feira a coordenadora local do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Cristina Palácios.
Cristina
Palácios falava em Caracas, durante uma conferência de imprensa organizada pela
União Europeia (UE) no âmbito de acções para sensibilizar a população para a
violência de género, durante a qual a UE anunciou a 4.ª Corrida da União
Europeia contra a Violência contra as Mulheres, que terá lugar no sábado.
Segundo
a coordenadora da UNFPA, estes mecanismos a que as mulheres venezuelanas
recorrem são determinantes para o trabalho da UNPFA: “definem o que temos de
fazer, como temos de o fazer, como podemos ajudá-las”.
“O
facto de vermos cada vez mais raparigas grávidas é um elemento para conhecer a
gravidade, porque as gravidezes precoces são um grande factor e determinam que
existe violência sexual contra as mulheres e contra as raparigas em
particular”, frisou Palácios.
“Não
dispomos de dados oficiais sobre a taxa de femicídios. Sabemos através da
monitorização feita por diferentes organizações da sociedade civil que até
agora este ano na Venezuela se registaram 200 femicídios. Este número é
impactante”, acrescentou Cristina Palácios.
“O
femicídio é a máxima expressão da violência de género. Temos de trabalhar para
evitar que isso aconteça, na prevenção”, alertou.
Segundo
a coordenadora local do UNFPA, “na Venezuela, mulheres e raparigas adolescentes
(…) são afectadas por diferentes situações de crise, tanto a crise pandémica
[de covid-19], como a crise económica e por várias formas de violência baseada
no género”.
“Sabemos
que existem e estão a emergir cada vez mais, as redes de tráfico para
exploração sexual envolvendo mulheres e adolescentes. Sabemos que as mulheres
estão a sofrer elevados níveis de violência dos parceiros íntimos (…) A maioria
dos perpetradores são pessoas conhecidas [das vítimas], membros familiares
directos”, explicou Cristina Palácios.
Para
a UNFPA “os números são úteis para compreender a dinâmica, mas não se conhecerá
a magnitude, porque muitos casos de violência baseada no género não são
denunciados”.
“Precisamos
de trabalhar para que haja uma mudança de comportamento, de atitudes, para
mudar as normas culturais que aceitam e naturalizam a violência contra mulheres
e raparigas”, frisou.
Palácios
disse ainda ter “provas” de que “principalmente as mulheres adolescentes são
vítimas da violência machista em todo o mundo”, mas que “particularmente na
Venezuela, a situação pode estar a ser exacerbada pela situação de crise no país”.
“Vemos
o machismo a reinventar-se a si próprio. Na Venezuela, infelizmente, a situação
que a maioria das mulheres e raparigas adolescentes estão a atravessar neste
momento está principalmente relacionada com vulnerabilidades económicas”,
vincou.
Cristina Palácios acrescentou ainda que “a covid-19 exacerbou ainda mais as vulnerabilidades de sofrer violência baseada no género” e que a pandemia “adicionou outros 20 anos” aos 200 anos que se previa necessários para reduzir a “brecha de género” mesmo nos países que se encontram mais avançados no combate à desigualdade e à violência contra as mulheres.ANG/Inforpress/Lusa
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