Legislativas antecipadas/ Partidos
e Supremo Tribunal "ignoraram" lei da paridade
Bissau,18 Mai 23(ANG) - A lei da paridade foi aprovada pela Assembleia
Nacional Popular (ANP) em 2018 e prevê uma participação mínima de 36%
das mulheres nos lugares de tomada de decisão, a nível nacional. Isabel de Almeida
No entanto, no próximo Parlamento do
pais, não deverá chegar a 13 o número de mulheres eleitas na décima
legislatura, a última.
A denúncia é da Liga Guineense dos
Direitos Humanos, na pessoa de seu vice-presidente,Buybacar Turé, e surge
depois de uma análise às listas dos candidatos a deputado, submetidas pelos
principais partidos do país e aprovadas pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ)
guineense.
Bubacar Turé apresenta dois factos:
"Primeiro, o número das mulheres em posições elegíveis na lista dos
principais partidos é muito fraco. O segundo facto é que, quer os partidos
políticos como o próprio Supremo Tribunal de Justiça ignoraram pura e
simplesmente a lei da paridade e, por conseguinte, as listas não obedeceram aos
critérios de 36% fixados pela lei e, curiosamente, os partidos não foram questionados
nem sancionados".
Perante isto, o vice-presidente da Liga
Guineense dos Direitos Humanos deixa um alerta: "Nós corremos o risco de
ter o pior Parlamento das últimas duas legislaturas no que concerne à
igualdade do género".
Turé considera que a lei da paridade foi
"uma fraude legislativa para tentar enganar os parceiros internacionais e
procurar alguma simpatia das mulheres na altura" e afirma que "hoje
ficou claro que não é nada mais do que uma letra morta".
Na nona legislatura, foram eleitas 14
mulheres, mais uma do que na décima, interrompida em maio do ano
passado pela dissolução da ANP. No próximo Parlamento, o número de
mulheres a serem eleitas deverá baixar ainda mais.
Para Isabel Almeida, coordenadora da
organização feminina MIGUILAN, o retrocesso "deve-se fundamentalmente às
dificuldades de continuar a sensibilização e monitoria". A responsável
lembra que o país ficou "sem a atividade parlamentar, porque a Assembleia
[Nacional Popular] foi dissolvida e isso impossibilitou a implementação de toda
uma agenda que estava prevista, justamente, visando acautelar esta situação nas
presentes eleições".
Já o jurista Cabi Sanhá responsabiliza o
Supremo Tribunal de Justiça pela situação, afirmando que a
instituição, "que devia ser o escudo, para defender as leis, acabou
por demonstrar que está ao serviço do poder político".
"Como é que o Supremo, perante uma
lei aprovada pela Assembleia Nacional Popular, não se coibiu de fazer valer
essa lei?", questiona.
A coordenadora da MIGUILAN, Isabel
Almeida, garante que as organizações da sociedade civil vão continuar a seguir
e a pressionar as entidades decisórias para o cumprimento da lei da paridade,
mas pede às mulheres que estão nos partidos políticos, "sobretudo aquelas
que estão nos órgãos de decisão, os órgãos da direção", que façam "o
seu papel, estejam atentas e acompanhem o calendário e o exercício
político" nos seus movimentos.
"Façam sempre a pressão para
influenciar no sentido do cumprimento da leis e da promoção das mulheres",
apela.
Nas eleições legislativas de 4 de junho
há 11 mulheres em posições de elegibilidade, na lista da Coligação
Plataforma de Aliança Inclusiva, liderada pelo Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na lista do Movimento para
Alternância Democrática (MADEM-G15) e na do Partido da Renovação Social (PRS).ANG/DW África
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