Afeganistão/Reacções mundiais ao novo governo
Bissau, 08 Set
21 (ANG) - Os Talibã anunciaram terça-feira, 7 de Setembro, a composição do governo
interino do Afeganistão, três semanas depois dos insurgentes terem conquistado
a capital do país, Cabul.
Mohammad Hasan, que foi ministro durante o
regime Talibã na década de 1990, vai assumir a chefia do governo afegão.
Por sua vez, Abdul Ghani Baradar, cofundador
do grupo Talibã, será o "número dois" do novo executivo, conforme
avançou o porta-voz dos insurgentes, Zabihullah Mujahid.
Já Sirajuddin Haqqani, um dos fundadores
da rede Haqqani classificada como organização terrorista, foi nomeado
ministro do Interior. O novo elemento do governo é um dos homens mais
procurados pelo FBI devido a ligações à Al-Qaeda e também ao envolvimento em
ataques terroristas. Os Estados Unidos da América oferecem uma recompensa de
mais de quatro milhões de dólares pela sua captura.
Os Estados Unidos da América já reagiram à
constituição do novo governo afegão e começaram por apontar o facto do
executivo não ser constituído por nenhuma mulher, uma promessa que havia sido
feita pelos Talibã.
“Notamos que a
lista dos nomes anunciados é exclusivamente composta por membros dos talibãs ou
de aliados próximos e nenhuma mulher”, disse um porta-voz do Departamento de Estado
norte-americano, em Doha.
Os Estados da América mostraram-se ainda
preocupados com as pessoas escolhidas para os cargos governamentais.
“Estamos também preocupados com as ligações e os
antecedentes de alguns destes indivíduos. No entanto, julgaremos os talibãs
pelos actos e não pelas palavras”, garantiu o mesmo representante
norte-americano.
Pramila Patten, directora executiva
da ONU para as mulheres, também reconheceu que a não inclusão das mulheres
no governo afegão vai ter impacto na coesão do país.
“Ao excluir as mulheres da máquina do governo, a
liderança do Talibã enviou um sinal errado sobre seu objectivo declarado de
construir uma sociedade inclusiva, forte e próspera", defendeu.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan,
garantiu estar a acompanhar de perto os últimos acontecimentos no Afeganistão e
também falou sobre o novo executivo.
“Não sabemos quanto tempo é que esse gabinete provisório
vai durar. Tudo o que temos que fazer é seguir esse processo com atenção”,
disse aos jornalistas, durante uma visita à República Democrática do Congo.
O Qatar também já reagiu aos novos
acontecimentos no Afeganistão e considera que os Talibã mostraram pragmatismo e
devem ser julgados como "governantes de facto" do país.
“Eles mostraram muito pragmatismo. Vamos aproveitar
as oportunidades que se apresentam e olhar para as suas acções públicas”,
disse a ministra adjunta e porta-voz dos Negócios Estrangeiros do Qatar,
Lolwah al-Khater, em entrevista à agência de notícias AFP.
“Eles são os governantes de facto, não há dúvida
sobre isso”, acrescentou.
O Qatar, país que desempenha um papel de
mediador entre o Afeganistão e outros países, fez um apelo nos últimos dias aos
Talibã e pediu-lhes que respeitassem o direito das mulheres e a possibilidade
dos cidadãos deixarem o país de forma livre.
Por seu turno, a Organização das Nações
Unidas disse não se envolver em actos de reconhecimento de governos, no entanto,
almeja a paz no país.
“Essa é uma questão que é feita pelos Estados
membros, não por nós. Do nosso ponto de vista, em relação ao anúncio de hoje,
apenas um acordo negociado e inclusivo trará uma paz sustentável ao Afeganistão”,
disse Farhan Haq, porta-voz da ONU, em entrevista aos jornalistas.
O representante garantiu ainda que a ONU
está empenhada em “contribuir para uma solução pacífica, promover os direitos humanos de
todos os afegãos, especialmente mulheres e meninas e fornecer assistência
humanitária que salva vidas”.ANG/RFI
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