ONU/Guterres pede cooperação porque mundo nunca enfrentou tantas ameaças
Bissau,
22 Set 21(ANG) – O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou terça-feira
que o mundo nunca enfrentou tantas ameaças, como destruição da paz,
desconfiança ou alterações climáticas e pediu cooperação entre os países
presentes na abertura do debate geral das Nações Unidas.
plomacia internacional, começou em Nova Iorque, com o discurso de António Guterres, na presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo e representação diplomática de todos os 193 Estados-membros da ONU.
Segundo
o secretário-geral da ONU, “o mundo nunca esteve tão ameaçado”, com seis
grandes temas de divisão: assalto à paz em todo o mundo, alterações climáticas,
fosso entre ricos e pobres, desigualdade de género, divisão tecnológica ou
digital e divisão geracional.
Grande
parte dos problemas advêm da decorrente pandemia de covid-19, que tem criado e
exagerado as desigualdades sociais e económicas no mundo, mas o
secretário-geral sublinhou ainda uma outra “doença contagiosa”: a desconfiança
a vários níveis – sejam as teorias da conspiração que entram em contradição com
a ciência, a população sem confiança nos seus governos ou ainda a falta de
cooperação entre países em temas que necessariamente dependem do
multilateralismo.
Guterres
classificou como “obscenidade” e grande “falha ética” global o facto de as
vacinas não estarem a ser distribuídas de forma uniforme no mundo, devido à
“tragédia de falta de vontade política e egoísmo”.
“Em
vez do caminho da solidariedade, estamos num caminho sem fim para a
destruição”, lamentou Guterres, que também declarou que a “interdependência tem
de ser a lógica do século XXI”.
O
chefe da ONU lembrou aos líderes que “as promessas não valem nada se as pessoas
não virem os resultados no seu dia-a-dia” e, pelo contrário, se depararem com
violações dos direitos humanos, corrupção ou um futuro sem grandes
oportunidades.
Os
“impulsos mais obscuros da humanidade” surgem com esta constante falta de
resultados para uma situação com mais esperança, considerou Guterres.
A
defesa da “supremacia cultural, domínio ideológico, misoginia violenta ou
ataques aos mais vulneráveis, incluindo refugiados e migrantes”.
O
antigo primeiro-ministro português sublinhou que a paz e o respeito pelos
direitos humanos estão a faltar, nos mais graves casos, como o do Afeganistão,
Etiópia, Myanmar, Sahel, Iémen, Líbia, Síria e ainda no Haiti, e muitos outros
locais onde “tantos foram deixados para trás”.
Outra
das grandes preocupações internacionais é a divisão que se cria entre dois
grandes poderes, um tema que, apesar de Guterres não nomear, é já recorrente
nos discursos dos últimos anos – Estados Unidos e China podem criar um problema
“muito menos previsível e muito mais perigoso do que a Guerra Fria”, salientou
o secretário-geral.
“Temo
que o nosso mundo se esteja a arrastar para dois conjuntos diferentes de regras
económicas, comerciais, financeiras e tecnológicas, duas abordagens divergentes
no desenvolvimento da inteligência artificial – e, em última análise, duas
estratégias militares e geopolíticas diferentes”, explicou.
A
nível das alterações climáticas, Guterres lembrou muitos dos apelos já
conhecidos, como a transição para energias renováveis, redução da utilização
dos combustíveis fósseis e carvão, mais impostos e menos subsídios sobre
recursos naturais poluentes.
A
grande diferença económica entre Estados é visível como efeito da pandemia de
covid-19, agora que “as economias avançadas estão a investir quase 28% do seu
Produto Interno Bruto na recuperação económica”, uma média que cai para 6,5%
nos países de renda média e “para 1,8% nos países menos desenvolvidos”,
acrescentou o secretário-geral.
As
previsões do Fundo Monetário Internacional apontam que nos próximos cinco anos
o crescimento económico ‘per capita’ na África subsaariana seja 75% menor do
que no resto do mundo.
Neste
discurso, Guterres renovou um apelo para a reforma da arquitetura da dívida
internacional, que a torne mais equitativa, e para a reforma dos sistemas de
impostos em todo o mundo, para prevenir evasão fiscal, branqueamento de
capitais ou outros fluxos financeiros ilícitos.
O
português enfatizou também os efeitos negativos da desigualdade de género e
apelou para sociedades com “representação mais igual”, que são,
consequentemente, “mais estáveis e pacíficas”.
“A
igualdade das mulheres é essencialmente uma questão de poder. Devemos transformar
urgentemente o nosso mundo dominado pelos homens e mudar o equilíbrio de poder,
para resolver os problemas mais desafiadores de nossa época”, considerou o
antigo alto comissário das Nações Unidas para Refugiados.
Por
outro lado, o acesso à internet tem de se tornar um direito humano, defendeu
Guterres, dizendo que até 2030 todo o mundo deveria ter ligação à internet, mas
com estratégias para combater o armazenamento de dados pessoais que estão a ser
usados comercialmente para lucros corporativos ou ainda pelos Governos para
“controlar ou manipular comportamentos, violando direitos individuais ou de
grupo e debilitando democracias”.
Por
último, para as cerca de 11 mil milhões de pessoas que se estima deverem nascer
até final do século, são necessários mecanismos para dar mais voz aos jovens,
para garantir educação de qualidade e para dar mais poder àqueles que serão
herdeiros do mundo de hoje.
A
esperança ainda existe, mas necessita que “todos façam a sua parte” sem demoras
e com cooperação global e com um multilateralismo renovado, concluiu o
secretário-geral da ONU.
ANG/Inforpress/Lusa
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