Xanana apela à profunda introspecção
Bissau O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, lamentou domingo que as quatro décadas de independência da Guiné-Bissau tenham sido "40 anos perdidos" e fez vários apelos emocionados para o país encontrar estabilidade.
O líder timorense falava no Palácio da Presidência, em
Bissau, depois de ter recebido um "diploma de amizade e solidariedade
entre os povos" entregue pelo presidente de transição guineense, Serifo
Nhamajo.
Na sala estavam também o primeiro-ministro de transição,
Rui Duarte Barros, representantes de organizações internacionais e o Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, líder dos militares
durante o golpe de estado de 12 de Abril de 2012.
"Celebrastes os 40 anos de independência e pensámos
por nós: não, não é ocasião de mandar felicitações. Não merecem. Como irmãos
decidimos isso: não mereceis. Quarenta anos foram perdidos", referiu
Xanana Gusmão, numa alusão aos golpes, conflitos militares internos e
instabilidade política no país.
"Chega", referiu em tom mais forte, num apelo
feito de lágrimas nos olhos.
Xanana Gusmão comparou a instabilidade na Guiné-Bissau
com a história de Timor-Leste, para mostrar que há soluções.
"Nós temos 11 anos e tivermos percalços. Mas
levantámo-nos com determinação para que nunca mais, com independência, corra
sangue no país", referiu.
"Façam uma profunda introspecção, é para o vosso
bem. De longe viemos para sacudir as vossas mentes, os vossos espíritos",
acrescentou.
Destacou ainda o facto de estarem na sala três timorenses
que podem ter diferentes opiniões sobre a condução do país, mas que
ultrapassaram divisões, aconselhando os guineenses a fazer o mesmo.
Xanana referia-se a Mari Alkatiri, que actualmente lidera
a oposição em Timor-Leste e que integra a comitiva do primeiro-ministro na
deslocação a Bissau, e Ramos-Horta, ex-presidente e governante timorense, hoje
representante especial das Nações Unidas em território guineense.
O presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo
Nhamadjo, aludiu às quatro legislaturas falhadas do país e fez um apelo aos
políticos e autoridades: "a cultura da intriga tem que acabar. Quando
houver problemas deve haver uma mesa para conversar".
Nhamadjo desvalorizou ainda o discurso da última semana
do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, que acusou
o governo de transição de corrupção e pediu verbas para as forças de segurança
e militares, sob pena de haver instabilidade.
Para o presidente de transição tratou-se apenas de uma
reclamação em tempos de "incompreensão e impaciência" de parte a
parte.
A Guiné-Bissau está a ser dirigida por um presidente e um
governo de transição na sequência do golpe de estado militar de 12 de Abril de
2012.
A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental) determinou que o período de transição tem que terminar antes do
final deste ano com a organização de eleições gerais, marcadas para 24 de Novembro.
No entanto, várias figuras públicas do país e da
comunidade internacional têm admitido a possibilidade de o escrutínio ser
adiado devido ao atraso na preparação do processo eleitoral.
Lusa/ANG
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