Ban Ki-moon foi a Lesbos criticar a estratégia europeia para os refugiados: “A detenção não é a resposta”
Bissau, 20 Jun 16 (ANG) -Secretário-geral da ONU alinhou com as organizações humanitárias que condenam o acordo com a Turquia. "O mundo tem a riqueza, a capacidade e o dever de estar à altura do desafio”, disse.
“A detenção não é a resposta: deve acabar imediatamente”, disse Ban Ki-moon, recordando que, em média, todos os meses morrem 450 pessoas no Mediterrâneo — “o equivalente a dois aviões intercontinentais cheios”, sublinhou. “Vamos trabalhar em conjunto para acolhermos mais pessoas, atribuir vias legais e integrar melhor os refugiados. Reconheço as dificuldades. Mas o mundo tem a riqueza, a capacidade e o dever de estar à altura do desafio”, disse.
Durante a manhã, em Atenas, numa conferência de imprensa com o primeiro-ministro grego, o secretário-geral deixou um alerta à comunidade internacional, dizendo que é preciso fazer mais para ajudar a Grécia a lidar com o fluxo de pessoas e cuidar dos quase 50 mil requerentes de asilo no país, muitos deles retidos pelo fecho da fronteira com a Macedónia e em graves condições humanitárias. Quase 8500 estão em limbo legal, combatendo uma possível deportação para a Turquia.
“A Grécia não deve ser deixada para enfrentar a sós este desafio”, afirmou, ao lado de Alexis Tsipras, que lhe ofereceu um colete salva-vidas. “Devemos trabalhar em conjunto de maneira a proteger as pessoas e lidar com as causas da sua deslocação. Insisto em pedir uma melhor repartição das responsabilidades na Europa e até no mundo."
A visita do secretário-geral das Nações Unidas a Lesbos dá-se apenas um dia depois de a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras ter anunciado que vai recusar dezenas de milhões de euros em fundos europeus como protesto contra o acordo de devolução de refugiados à Turquia. “Mais uma vez, o principal objectivo da Europa não é o de dar a melhor protecção possível às pessoas, mas sim o método mais eficiente de as manter longe”, argumentou o secretário-geral dos Médicos Sem Fronteiras, Jerome Oberreit.
O acordo entre a União Europeia e a Turquia pretende devolver praticamente todos os imigrantes ilegais, requerentes de asilo e refugiados sírios chegados à Grécia depois do dia 20 de Março, sinalizando o fecho da rota pelo Egeu e desencorajando novas viagens para a Europa. A estratégia implica que todas as pessoas que desembarquem nas ilhas gregas sejam enviadas para centros de detenção, hoje sobrelotados, sem condições humanitárias e onde já vários requerentes de asilo se tentaram suicidar.
Todos têm o direito de pedir asilo na Grécia, mas a esperança de Bruxelas é que os tribunais recusem protecção pelo menos a cidadãos sírios, a única nacionalidade não europeia a quem a Turquia se dispõe a dar um estatuto equivalente ao de um refugiado. Isto apesar de todos os relatos de decisões de asilo ilegais, maus-tratos, tortura e expulsões da Turquia, e até de homicídios de soldados turcos na fronteira com a Síria.
“Os líderes europeus deviam olhar para o chão em vergonha só pelo facto de ser precisa uma visita de Ban [Ki-moon à Grécia]”, escrevia a Amnistia Internacional na quinta-feira, antecipando a viagem do secretário-geral da ONU: “Isto diz muito dos defeitos trágicos do acordo de migração da UE e Turquia, assinado com grande pompa há três meses.”
Os líderes europeus regozijam-se com a queda abrupta no número de novas chegadas à Grécia — antes do fecho da rota do Egeu, desembarcavam quase 1500 pessoas por dia em ilhas gregas como Lesbos; hoje, o número não ultrapassa os 50. Mas a redução de travessias deve-se também ao encerramento da fronteira com a Macedónia e a uma grande operação de combate ao tráfico humano do lado turco.
De resto, o próprio acordo enfrenta obstáculos que lhe podem ser fatais, como, por exemplo, o recente impasse diplomático entre Bruxelas e Ancara sobre a lei antiterrorismo da Turquia, que o Presidente Recep Tayyip Erdogan parece pouco disposto a alterar, e que está a impedir que a UE possa liberalizar as viagens para cidadãos turcos no espaço europeu.
Enquanto não avançam as contrapartidas — ou até parte dos 6000 milhões de euros que Bruxelas prometeu em assistência humanitária —, os ferries devem continuar parados. Só 562 pessoas foram até agora transferidas da Grécia para a Turquia depois de 20 de Março, na sua maioria imigrantes paquistaneses. No que diz respeito aos refugiados sírios — a Europa deve receber uma pessoa por cada que reenvie — só 31 fizeram a viagem de regresso à Turquia.
ANG/Publico
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