Definida sequência de
sintomas que resulta na doença de Alzheimer
Bissau, 22 Jun 16(ANG) – Há mais de cem anos que a doença de Alzheimer
foi descoberta, mas continua a haver muitos mistérios sobre este mal,
responsável por 60 a 70 por cento do número de demências.
Entre outras características, a doença de
Alzheimer provoca, ao longo de anos, uma perda de memória acompanhada por uma
diminuição da capacidade de autonomia dos doentes, que acabam por morrer.
Um dos aspectos mais problemáticos no seu
tratamento é o diagnóstico: normalmente é tardio e é feito a partir de uma
avaliação que ainda não passa por indicadores fisiológicos, o que permitiria
fazer análises mais objectivas. Estas dificuldades são um reflexo da
complexidade da doença.
Agora, uma equipa de cientistas
avaliou dezenas de aspectos fisiológicos associados à doença de Alzheimer
tardia (que surge a partir dos 65 anos, em oposição a uma variante que aparece
mais cedo, associada a mutações genéticas) a partir de exames feitos a doentes.
Através de uma análise complexa, os
cientistas dizem ter definido pela primeira vez a sequência de sintomas que
acompanha a evolução da doença de Alzheimer.
O primeiro sinal que anuncia este
problema degenerativo é uma mudança na quantidade de sangue que chega a
diferentes partes do cérebro, de acordo com o trabalho publicado nesta
terça-feira na revista científica Nature
Communications. Este sinal poderá servir, no futuro, para
diagnósticos mais precoces da doença.
Desde que se começou a estudar a
doença de Alzheimer, várias teorias foram sendo propostas para explicar quais
eram as causas e as características, mas nenhuma dessas teorias satisfaz os
cientistas.
“A grande complexidade dos mecanismos
subjacentes à doença e a falta de modelos quantitativos que integrem estes
mecanismos torna difíceis a compreensão de como a doença de Alzheimer tardia
progride e o desenvolvimento de agentes terapêuticos que possam alterar o seu
rumo”, escrevem no artigo Yasser Iturria Medina, do Instituto Neurológico de
Montreal, no Canadá, e colegas, fazendo uma síntese desta problemática.
A alteração da forma como o sangue
irriga o cérebro, pondo em causa o abastecimento das células nervosas de
oxigénio, açúcar e outros nutrientes, é uma das mais antigas hipóteses para o
desencadear da doença de Alzheimer.
Entretanto, foram surgindo
alternativas para a origem da doença, como a acumulação no cérebro de placas da
proteína beta-amilóide e, mais recentemente, a hiperactividade das células do
cérebro (os neurónios), que terá um efeito tóxico no tecido envolvente.
Independentemente da causa, no fim, o cérebro de uma pessoa que morre de
Alzheimer é mais pequeno do que o normal, um resultado da morte de milhões e
milhões de neurónios.
Os cientistas resolveram estudar a
doença com uma nova abordagem: tentaram relacionar diferentes factores
biológicos com a progressão da doença e fazer uma análise complexa entre estes
factores para encontrar uma cronologia dos acontecimentos à medida que a
neurodegeneração evolui.
Assim, foram olhar para a alteração
dos níveis das proteínas beta-amilóide, para o metabolismo, a regulação
vascular, a actividade cerebral em descanso, as propriedades dos tecidos
cerebrais e os níveis de determinadas proteínas em 1171 indivíduos – alguns
deles saudáveis, outros em diferentes fases da doença de Alzheimer.
Para isso, a equipa analisou 7700 imagens
cerebrais daqueles indivíduos de vários tipos (desde imagens de ressonância
magnética até à PET, a tomografia de emissão de positrões) e dezenas de
biomarcadores que se encontram no líquido cefalorraquidiano.
“Os nossos resultados sugerem que a
desregulação vascular é um evento patológico inicial durante o desenvolvimento
da doença, seguida pela mudança do nível da deposição da beta-amilóide, a
disfunção metabólica, a deterioração da função [cerebral] e a atrofia
estrutural [do cérebro]”, descrevem os autores no artigo. Ao mesmo tempo, a
memória e as capacidades dos doentes de Alzheimer vão piorando.
Apesar de a causa inicial da doença
ainda estar por determinar, os cientistas acreditam que a definição desta
sequência de acontecimentos é importante para compreender as diferentes escalas
temporais em que os vários processos fisiológicos associados à doença estão a
acontecer e a interacção entre eles.
Um exemplo desta ligação é a ideia de
que a acumulação de beta-amilóide no cérebro é uma consequência da má
vascularização cerebral, que não retira o excesso de proteínas, e não de uma
superprodução da beta-amilóide. Para Yasser Iturria Medina e colegas, “estes
resultados podem contribuir para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas
eficientes”. ANG/Publico
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