ONU/Recusada amnistia a grupos da RDC como “recompensa a assassinos”
Bissau,
03 Set 20 (ANG) - A representante da ONU na República Democrática do Congo
(RDC) recusou quarta-feira a amnistia prévia e integração no exército regular
dos grupos armados como forma de instaurar a paz e a estabilidade no leste do
país.
"Não devemos amnistiar", disse Leila Zerrougui, questionada numa conferência de imprensa sobre o fracasso dos chamados programas "DDR" (desarmamento, desmobilização, reintegração) de combatentes de grupos rebeldes na RDC.
"Amnistia significa
dizer que os factos nunca existiram", continuou a diplomata argelina,
evocando a sua experiência como magistrada.
"Viram como eles
cortam pessoas em pedaços nas aldeias?", acrescentou, referindo-se aos
massacres atribuídos às Forças Democráticas Aliadas (ADF) no Kivu Norte e ao
Codeco (Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo) em Ituri.
Leila Zerrougui chamou a
atenção para as vítimas, sublinhando que "as pessoas que cometem crimes
graves devem ser responsabilizadas pelos seus actos" e que, embora "a
sociedade possa decidir" perdoar, "tem de haver alguma forma de
justiça".
Dezenas de grupos
armados, congoleses mas também de origem ugandesa, ruandesa ou burundesa, estão
a ameaçar civis nas três províncias do leste da RDC (Ituri, Kivu Norte e Kivu
Sul).
Há apenas um ano, o
secretário-geral da ONU, António Guterres, numa visita a Goma, convidou os
grupos armados a deporem as armas, recuperando um apelo do Presidente, Felix
Tshisekedi, aos grupos armados.
A rendição é, no
entanto, complicada pela falta de recursos das autoridades.
"O governo congolês
não tem um programa sério de DDR para acompanhar o apelo do chefe de Estado aos
vários grupos armados", lamentaram os antigos rebeldes M23 numa declaração
a 29 de Agosto.
A representante da ONU
criticou os "senhores da guerra" que afirmam defender a sua
comunidade mas que pensam "apenas na amnistia e na patente" que
esperam obter no exército regular em troca da sua desmobilização.
"Não podemos
continuar a recompensar assassinos. Não podemos recompensar o crime",
disse.
"Temos de parar
esta integração sistemática no exército e esta distribuição de patentes",
acrescentou.ANG/Angop
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